quinta-feira, 29 de maio de 2025

Por que você conta quantos livros você lê?


 

Eu nunca usei Tiktok na vida. Tudo que sei sobre essa rede são informações que vejo por aí, vídeos que os amigos compartilham e coisas que eventualmente vão parar no youtube. O instagram adotou o modelo de vídeos curtos nos reels e o YouTube também tem repetido essa mesma lógica no shorts. Dá pra se ter uma ideia do quão viciante que é o tiktok.

Uma coisa que andou me chamando a atenção, é que muitos Youtubers fazem vídeo falando a respeito de como o hábito da leitura tem se transformado no tiktok. Se por um lado há uma coisa boa em fazer todo mundo ler, por outro, existem pessoas que ficam ansiosas e tristes por não conseguirem ler o volume insano de livros que esses influencers do tiktok são capazes de ler. 

Na época que eu fui adolescente e estudava, não havia essa coisa de clube de livros, ao menos não tão acessível. Eu lia bastante, mas era algo bem individual, dificilmente as pessoas dividiam experiências de leituras e indicavam livros. Quando fui trabalhar com uma moça muito jovem, 24 anos, que tinha ainda lembranças frescas da escola, ela me disse que lia bastante desde a escola, plataformas de livros eram populares. Isso antes do tiktok. Agora, imagino que a coisa deva ter mudado ainda mais.

Eu já me peguei lendo livros que esses influencers indicam e até vi que as livrarias colocam selinho de livro mais indicado no tiktok. Parece que o mercado editorial deu uma esquentada com essas plataformas. Eu não acho ruim, sinceramente até aprecio a ideia de todo mundo ler. Mas há alguns problemas que vieram com isso.

Primeiro, contar quantos livros lê para uma certa competição, na minha opinião é como promover uma perda do prazer da leitura. Aquela leitura profunda, reflexiva, emocionante. Não que isso não ocorra quando você começa a contar quantos livros leu. Mas essa obrigação não é necessária. Mais vale ler um livro grosso com emoção e sem pressa, que 15 livros por mês do qual a leitura não serviu de muita coisa. E eu sei que é possível ler 15 livros e a experiência ser muito gratificante, mas sério, essa é uma falsa obrigatoriedade. É uma competição boba que não serve pra nada.

Se você está lendo um livro de não ficção como os de política, psicologia, história, biografias, etc, é ainda mais complicado porque esse tipo de leitura requer mais reflexão e por vezes é interessante fazer anotações e fichamento. Eu também tenho reparado que muitos desses influencers fazem anotações em seus livros, colam postits, marcadores de páginas, usam aquelas canetas grossas pra destacar frases e muitas vezes até fazem publi delas. Minha avó foi uma professora normalista. Ela deu aula da década de 30 até 60 e eu acabei herdando muitos de seus livros. Nenhum deles veio marcado. Não era um hábito que os antigos faziam e não é um hábito que eu faço. Eu só coloco marcadores quando é livro de estudo. Eu sou formada em filosofia, quando estudo um tema, então eu faço anotações e fichamento. Fora isso, não vejo muita necessidade de marcar livro que muitas vezes eu só vou ler uma vez. 

Mas ok, isso é algo muito particular. Sempre teve quem fizesse isso, minha mãe uma vez emprestou o livro dela e ele voltou todo rabiscado e marcado, o que a fez nunca mais emprestar seus livros. Hoje eu uso bastante leitor digital, o que facilita bastante pra mim, é o lado da tecnologia que eu aprecio. Nele, eu faço anotações, mas sempre marco livros que não são de ficção. Isso é um gosto particular de cada um, mas você não tem essa obrigação. Não faça isso porque viu a fulana do canal x fazendo ou a tiktoker rabiscando livros fazendo publi pra marcas que vendem essas bugigangas.

Eu vou contar um pouquinho do que aconteceu comigo. Houve um tempo que eu tinha engordado bastante e não estava me dando bem com algumas pessoas no trabalho. Estava complicado também me locomover até o trabalho, eu gastava mais de 3 horas pra ir e 3 pra voltar. Chegava em casa quase 9 da noite, cansada, não tinha muito tempo pra quase nada. Eu apenas abria livros, como sempre fiz e lia no transporte público. Aliás, ler no transporte público é um hábito que me acompanha há mais de 20 anos. Hoje em dia existe tecnologia pra ouvir audiobook e eu aproveito elas.

Nessa época eu apreciava muito os canais de booktubers e trabalhava perto da antiga livraria Saraiva. Eu sempre via as resenhas de livros e na medida que podia, entrava lá e comprava livros. Assim, acumulei mais livros do que eu realmente podia ler e muitos deles ainda estão jogados na minha estante. Nunca dei conta de conseguir nem começar e quando comecei, muitos deles nem terminei. Ou seja, consumir não tem nada a ver com realmente ler e se aprofundar na leitura. Antigamente eu ia na livraria, olhava a capa de um monte de livro e depois decidia qual levar. Comprava exatamente o que ia ler e lia com gosto. Hoje em dia, eu tenho muitos, mas muitos livros e quando já não tinha mais onde enfiar livros, eu ia lá e comprava mais. O resultado foi uma estante abarrotada de livros que, muitos deles eu estou decidindo por vender e doar porque eu realmente não vou ler.

Se eu puder te dar uma dica, é sempre pra exercer a paciência quando começar uma leitura. Livros não deveriam ser objeto de ansiedade, você não tem obrigação nenhuma de aceitar desafios de ler 15 livros por mês ou 80 livros por ano. Se você trabalha e estuda, livros deveriam ser usado pra descansar a cabeça, não pra gerar esse estresse. Você também não precisa ter uma estante cheia de livros. Eu li muitos livros clássicos e livros nacionais pegando emprestado na biblioteca da escola, o que, aliás, se você puder, ainda é possível fazer.

O que importa é o enriquecimento que a leitura proporciona, não fazer disputa pra ler mais ou acumular 500 livros na estante. 

 












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