quinta-feira, 29 de maio de 2025

Influencers estão causando uma crise sanitária com bets

 

 

Eu não vou comentar a respeito dessa falcatrua que foi a CPI das Bets e a senhora Virgínia Fonseca usando aquela palhaçada toda pra promover suas publis. Não quero acabar com minha saúde mental que já não é muito das melhores. Agora os noticiários publicam a respeito da traição de seu marido e isso pode ser uma cortina de fumaça pra esconder o assunto das bets, que cá pra nós, pegou mal pra caralho.

Não quero me prolongar nesse texto, pois a revolta que sinto é grande e isso atrapalha minha vontade de escrever porque eu só consigo sentir algo e não colocar em palavras. Esses influencers estão causando uma verdadeira crise sanitária. Eles se focam maldosamente e sem qualquer escrúpulo no público jovem e mais vulnerável que os segue e tem essa relação de confiança.

Isso causa impactos devastadores na saúde mental, depressão, ansiedade e pânico. Causa endividamento grave, suicídios e isolamento familiar. Depois, não é o influencer que fará nada por essas pessoas, mas é o dinheiro público que será gasto para o tratamento desses vícios em apostas. 

Os influencers dizem com imensa maldade "joga quem quer". Não é assim tão simples. Toda vez que uma empresa vende algo, é necessário também que o consumidor tenha seus direitos e proteção. Uma empresa não pode vender produtos vencidos e nem comida estragada. Não pode vender coisa quebrada sem sofrer as penalidades da lei. Não pode fazer venda casada e nem esquema fraudulento de enganação como a dona Amazon atualmente com essa história de colocar publicidade nos filmes do streaming e cobrar mais caro pra retirar. Que proteção tem o consumidor dessas porcarias de bets? Nenhuma. Não vai pra lado nenhum isso, os influencers ganham e ninguém é punido.

A coisa é tão revoltante que esses lixos se sentem muito seguros pra entrar no senado e falar na maior cara de pau o que bem entendem, que não são responsáveis por quem aposta e joga quem quer. Nada acontece com eles, nem com essas empresas. É fácil julgar as pessoas quando não se está olhando o desespero delas. Eu sei que há quem alegue que a culpa é de quem entra nessa sabendo que isso é furada, mas pense bem em quantas vezes a gente mesmo não foi enganado por falsa propaganda. É um caminho longo para o entendimento de que certas coisas não valem a pena comprar e até que isso aconteça, a gente já gastou nosso dinheiro com coisas que hoje julgamos que não valeu a pena.

Se temos essas informações, ótimo, mas nem todo mundo tem essa consciência. As coisas não são perfeitas, mas se alguma empresa te sacanear, você pode acionar o Procon e brigar por seus direitos. As bets, ao contrário não tem regulamentação de nada, o influencer fala o que quer, as empresas conduzem da forma que bem entendem e a crise sanitária de saúde mental vai se agravando. O que o influencer faz de bom além de sugar o seu dinheiro? Analise bem. Eles não tem serventia pra nada, além de entretenimento barato pra pessoas que já nem sabem porque ficam olhando aquilo. Talvez performar a vida seja mais atraente que viver uma vida autêntica.

Eu acredito que essas coisas deveriam ser legalizadas, regulamentadas e a propaganda proibida. Se as big techs descumprissem as normas, o peso da lei deveria recair sobre elas, afinal, plataformas digitais como o instagram não são coisas inocentes e orgânicas, mas sim uma empresa de publicidade, que usa todos os artifícios pra te manter lá por horas e horas a fio, sugando seu tempo e sua saúde mental.

Sabe aquele anuncio que tem nas latas da cerveja? Algo mais ou menos assim:

"Beba com moderação"

Pois é, essa coisa aí é obscura pra caralho porque o que seria essa moderação? Um copinho americano de cerveja? Um dedinho de whiskey? Duas latas de cerveja? Meia garrafa de vinho? Enfim, não dá pra saber o que seria essa moderação e se todo mundo exercesse isso, essas empresas não lucrariam. Quem coloca esse "beba com moderação" no cantinho da latinha da cerveja é a própria indústria do álcool porque não existe uma regulamentação que os obrigue a colocar ceninhas degradantes como dos 7 tipos de cânceres que sabidamente essas merdas podem causar, mais ou menos como é o verso do maço de cigarro. 

Se não há regulamentação, as empresas farão o que bem entenderem, não duvide disso. Se elas podem, elas farão, a propaganda será agressiva, elas vão usar os influencers pra obter todo lucro possível, eles vão querer seu seguro desemprego, seu décimo terceiro, seu benefício social, seu pé de meia, sua renda extra, vão querer que você faça empréstimo e nada disso vai bastar. Eles vão sugar a sua alma, te deixar viciado e mesmo que você se recupere, aquela vontade de sucumbir ao jogo sempre estará lá. Não há dúvidas de que a sua alma está na jogada e os influencers vão ficar cada vez mais ricos e futuramente serão lembrados por causar essa desgraça de crise sanitária.

Sei que sou só uma pessoa entusiasta que há anos escrevo esse blog por escapismo e porque aqui é um espaço que ainda posso falar mal dessas coisas sem censura. Eu não tenho relevância, sou só uma pessoa comum que desistiu das redes sociais e gostaria que todos desistissem e debandassem também. Por outro lado sei do poder que essas desgraças tem sobre as pessoas, mas acredite: todo esse poder que a big tech exerce sobre você, é dado a eles de bom grado. Você acha que isso é necessário e não é. Se é necessário pra influencer ganhar dinheiro, ok, mas antes de mais nada, você está lá pra dar dinheiro a eles. Não defenda essas pessoas. No dia que tudo der errado, eles estarão salvos, deitados numa pilha de dinheiro e você não terá nada. Some isso com a saúde mental em frangalhos e pronto.

Precisamos reagir. Eu sou entusiasta de uma velha internet que ninguém precisava ver 20 publicidades pra acessar um conteúdo, nem dar dinheiro nenhum pra influencer pra obter informação. Aqui escrevo porque sei que as pessoas irão ler de graça e quem sabe refletir. Vamos viver uma vida autêntica e fazer bom uso do nosso dinheiro e saúde mental.


 

Por que vocês escutam influencer fitness?

 

Mais ou menos no ano de 2008, pelo que me lembro, ainda na era dourada dos blogs, li uma postagem falando algo do tipo: "As 10 dietas mais bizarras do mundo". Até encontrei um antigo blog falando sobre isso. Naquela época, apesar de dietas serem populares, essas bizarrices ocupavam um lugar obscuro e marginal no grau de importância da vida.

Eles satirizavam, por exemplo, a dieta uga uga, um deboche para o nome dieta paleolítica. Pra mim isso é algo extremamente risível até os dias de hoje, mas qual não foi minha surpresa ao ver que as coisas mudaram em um nível que o povo decidiu dar algum respaldo científico pra essas bobagens e discutem os riscos, benefícios e diversas nuances dessa tal dieta que num passado nem tão remoto considerávamos bizarrices proferidas por um grupinho de fanáticos.

Alguns influencers andaram virando a chavinha do conteúdo e decidiram entrar nesse universo fitness porque isso dá dinheiro e mais atenção, nem que pra isso falem bobagens sem ter estudo e embasamento adequado.

Houve um tempo que tinha a Gabriela Pugliesi falando um monte de asneiras sobre exercício físico e dietas. Hoje em dia, há legiões desse tipo.

Gracyanne Barbosa, uma celebridade fitness que se não me falha a memória, tinha muitos haters. Os comentários em suas postagens eram o puro suco do ódio. Hoje em dia chamam ela de musa. Saliento que nunca achei nem um pouco legal o hate que Gracyanne recebia. Nunca vi motivo nenhum pra atacar alguém de graça assim, muito menos por causa do corpo. Meu ponto aqui é que as coisas sempre podem mudar. Ontem era ridicularizada, hoje é uma musa inspiradora.

Conteúdo sobre emagrecimento e ganho de massa está por toda internet. Charlatões propagando tolices sobre alimentação e profissionais sempre dispostos a respondê-los desmitificando eternamente essa porcalhada anticientífica.

Fazer checagem de fatos pode ajudar algumas pessoas, mas de modo geral, não é tão relevante. Se uma mentira ganha status de verdade, ela passará a ser verdade. Por isso você vê tanta gente estúpida falando que não pode comer fruta, glúten, lactose e outros alimentos frescos, mas pode usar anabolizantes, insulina e suplementos controversos livremente, conseguem milhares de seguidores e fiéis de seita, que se sacrificarão por eles e gastarão seus dinheiros com procedimentos duvidosos.

Um dia me enviaram um vídeo de uma senhora comendo uma barra de manteiga como se estivesse mordendo um pastel. E ainda falava trocentos rios de bobagens sobre dieta carnívora, o que me faz pensar que, se esse era o objetivo do nosso desquerido lagarto reptiliano Mark Zuckerberg, de fazer tolices se tornarem amplamente difundidas ao ponto de virarem falsas verdades, meus parabéns, ele conseguiu isso com sucesso. Sempre haverá quem acredite que a terra é plana.

O dia é difícil, o metrô tá lotado, você nem sempre tem tempo pra cozinhar e ainda gasta seus preciosos minutinhos ouvindo charlatões. Se não pode fazer uma refeição, compre o pacotinho mágico não sei do que e vire ele com leite. Ou faça jejum a noite, depois de um dia exaustivo de trabalho. Esqueça seus problemas financeiros e gaste um tubo de dinheiro no suplemento da influencer picareta das bets. Acredite que você terá o bumbum da Barbara Borges apenas usando método controverso de aeróbica. Ou que terá um físico igual do Ramon Dino comendo tapioca e usando o cupom de desconto da droguinha do influencer que recebe dinheiro do laboratório obscuro. Eles te iludem pra sugar o seu dinheiro.

Tome cuidado com esses influencers. É a sua saúde que está em jogo. Você não precisa se frustrar porque não consegue ir pra academia todos os dias. Nem precisa, na verdade, fazer academia se você não gosta, aprecie outros esportes. O básico na nossa vida sempre funcionou muito bem e logo não vai demorar para que tenhamos uma crise sanitária e a culpa é majoritariamente dos influencers que causam esses problemas. Muitos deles não servem pra nada, só estão lá unicamente pra sugar o seu dinheiro.

Por que você conta quantos livros você lê?


 

Eu nunca usei Tiktok na vida. Tudo que sei sobre essa rede são informações que vejo por aí, vídeos que os amigos compartilham e coisas que eventualmente vão parar no youtube. O instagram adotou o modelo de vídeos curtos nos reels e o YouTube também tem repetido essa mesma lógica no shorts. Dá pra se ter uma ideia do quão viciante que é o tiktok.

Uma coisa que andou me chamando a atenção, é que muitos Youtubers fazem vídeo falando a respeito de como o hábito da leitura tem se transformado no tiktok. Se por um lado há uma coisa boa em fazer todo mundo ler, por outro, existem pessoas que ficam ansiosas e tristes por não conseguirem ler o volume insano de livros que esses influencers do tiktok são capazes de ler. 

Na época que eu fui adolescente e estudava, não havia essa coisa de clube de livros, ao menos não tão acessível. Eu lia bastante, mas era algo bem individual, dificilmente as pessoas dividiam experiências de leituras e indicavam livros. Quando fui trabalhar com uma moça muito jovem, 24 anos, que tinha ainda lembranças frescas da escola, ela me disse que lia bastante desde a escola, plataformas de livros eram populares. Isso antes do tiktok. Agora, imagino que a coisa deva ter mudado ainda mais.

Eu já me peguei lendo livros que esses influencers indicam e até vi que as livrarias colocam selinho de livro mais indicado no tiktok. Parece que o mercado editorial deu uma esquentada com essas plataformas. Eu não acho ruim, sinceramente até aprecio a ideia de todo mundo ler. Mas há alguns problemas que vieram com isso.

Primeiro, contar quantos livros lê para uma certa competição, na minha opinião é como promover uma perda do prazer da leitura. Aquela leitura profunda, reflexiva, emocionante. Não que isso não ocorra quando você começa a contar quantos livros leu. Mas essa obrigação não é necessária. Mais vale ler um livro grosso com emoção e sem pressa, que 15 livros por mês do qual a leitura não serviu de muita coisa. E eu sei que é possível ler 15 livros e a experiência ser muito gratificante, mas sério, essa é uma falsa obrigatoriedade. É uma competição boba que não serve pra nada.

Se você está lendo um livro de não ficção como os de política, psicologia, história, biografias, etc, é ainda mais complicado porque esse tipo de leitura requer mais reflexão e por vezes é interessante fazer anotações e fichamento. Eu também tenho reparado que muitos desses influencers fazem anotações em seus livros, colam postits, marcadores de páginas, usam aquelas canetas grossas pra destacar frases e muitas vezes até fazem publi delas. Minha avó foi uma professora normalista. Ela deu aula da década de 30 até 60 e eu acabei herdando muitos de seus livros. Nenhum deles veio marcado. Não era um hábito que os antigos faziam e não é um hábito que eu faço. Eu só coloco marcadores quando é livro de estudo. Eu sou formada em filosofia, quando estudo um tema, então eu faço anotações e fichamento. Fora isso, não vejo muita necessidade de marcar livro que muitas vezes eu só vou ler uma vez. 

Mas ok, isso é algo muito particular. Sempre teve quem fizesse isso, minha mãe uma vez emprestou o livro dela e ele voltou todo rabiscado e marcado, o que a fez nunca mais emprestar seus livros. Hoje eu uso bastante leitor digital, o que facilita bastante pra mim, é o lado da tecnologia que eu aprecio. Nele, eu faço anotações, mas sempre marco livros que não são de ficção. Isso é um gosto particular de cada um, mas você não tem essa obrigação. Não faça isso porque viu a fulana do canal x fazendo ou a tiktoker rabiscando livros fazendo publi pra marcas que vendem essas bugigangas.

Eu vou contar um pouquinho do que aconteceu comigo. Houve um tempo que eu tinha engordado bastante e não estava me dando bem com algumas pessoas no trabalho. Estava complicado também me locomover até o trabalho, eu gastava mais de 3 horas pra ir e 3 pra voltar. Chegava em casa quase 9 da noite, cansada, não tinha muito tempo pra quase nada. Eu apenas abria livros, como sempre fiz e lia no transporte público. Aliás, ler no transporte público é um hábito que me acompanha há mais de 20 anos. Hoje em dia existe tecnologia pra ouvir audiobook e eu aproveito elas.

Nessa época eu apreciava muito os canais de booktubers e trabalhava perto da antiga livraria Saraiva. Eu sempre via as resenhas de livros e na medida que podia, entrava lá e comprava livros. Assim, acumulei mais livros do que eu realmente podia ler e muitos deles ainda estão jogados na minha estante. Nunca dei conta de conseguir nem começar e quando comecei, muitos deles nem terminei. Ou seja, consumir não tem nada a ver com realmente ler e se aprofundar na leitura. Antigamente eu ia na livraria, olhava a capa de um monte de livro e depois decidia qual levar. Comprava exatamente o que ia ler e lia com gosto. Hoje em dia, eu tenho muitos, mas muitos livros e quando já não tinha mais onde enfiar livros, eu ia lá e comprava mais. O resultado foi uma estante abarrotada de livros que, muitos deles eu estou decidindo por vender e doar porque eu realmente não vou ler.

Se eu puder te dar uma dica, é sempre pra exercer a paciência quando começar uma leitura. Livros não deveriam ser objeto de ansiedade, você não tem obrigação nenhuma de aceitar desafios de ler 15 livros por mês ou 80 livros por ano. Se você trabalha e estuda, livros deveriam ser usado pra descansar a cabeça, não pra gerar esse estresse. Você também não precisa ter uma estante cheia de livros. Eu li muitos livros clássicos e livros nacionais pegando emprestado na biblioteca da escola, o que, aliás, se você puder, ainda é possível fazer.

O que importa é o enriquecimento que a leitura proporciona, não fazer disputa pra ler mais ou acumular 500 livros na estante. 

 












quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Por que eu não vou criar um orkut, caso ele volte


 

Eu sou uma entusiasta da velha internet. Não que eu deseje que as coisas voltem a ser 100% como era antes, mas é que eu acredito que a internet é um vasto mar de infinitas possibilidades, um universo amplo demais pra permitirmos que toda a comunicação fique a cargo de uma ou outra rede social.

Um amigo até fez uma analogia com os shoppings: se todas as lojas estão num shopping, pra que vou querer ficar rodando por aí se posso ir num lugar só? 

Ora, você se limita entrando só no shopping, enquanto poderia encontrar coisas melhores e até mais baratas por aí afora. Acredito que a mesma lógica é a internet. Descobrir coisas, encontrar pessoas sem estar num mundo onde tudo tende a ser igual é uma ótima experiência. A gente quer se comunicar de qualquer maneira, se não tem rede social, fazemos isso de um jeito ou de outro. Embora eu saiba que blogs não andam em alta e não chegam nem perto disso, eu ainda mantenho esse modesto espaço por anos na esperança de um dia, talvez o blogs voltem a acender. Se isso irá acontecer, eu não sei, mas eu me recuso a difundir informações centralizadas em uma rede social.

Então eu me pergunto, se o orkut voltar mesmo, como ele voltaria? Seria a mesma coisa de 15 anos atrás, com emoticon de gelinho e coraçãozinho? Teria a mesma aparência azul e lilás, com comunidades, lista de amigos e rolagem finita? Você entra, vê o que quer e sai?? Ou esses caras usariam a lógica da economia de atenção? Eu me pergunto isso e tenho uma ligeira curiosidade pra saber como o senhor Orkut Büyükkökten redesenharia essa rede sem sofrer os impactos desses loucos anos de IA.

Chegamos a um ponto que a internet não significa só sair surfando e descobrindo, a internet parece ter sido tomada por algoritmos perversos que te levam a um local só pra reter sua atenção. Há quem ache que a internet é só tiktok e instagram. Ou youtube... Triste, mas infelizmente é real. Tem tanta coisa boa por aí, por que temos que ficar em um local só?

De fato, se o orkut voltar a ser como há 20 anos, ninguém precisa se preocupar muito. Não me recordo de chegar link invasivo, teorias conspiratórias e propaganda de joguinho a cada minuto. Ainda tenho lembrança específica de entrar lá, ir no perfil das pessoas, olhar as comunidades, dar um pouco de risada e sair. Mas isso é passado. Se voltasse hoje, não seria como nos anos 2000. Eu nunca vi épocas voltarem a ser o que eram, os momentos viram lembranças e o recado é que a gente aproveite enquanto temos.

Acredito que a aventura das redes sociais teve seu momento, seu pico na minha vida e eu não acho que são mais necessárias, se é que um dia foram. Foi divertido, triste, teve altos e baixos, mas tudo na vida chega ao fim e minhas atividades nas redes sociais chegaram também.O tempo que tive no orkut foi divertido, mas passou e ficou para trás. E eu tenho uma grande descrença que o orkut voltará igual.

Ganhar dinheiro com rede social quase sempre implica em focar o modelo de negócio na economia de atenção, não acredito que com o Orkut será diferente. Na minha opinião, se ele voltar, dará espaço pra vídeo, rolagem infinita e carregamento ilimitado de fotos. E ainda dará o biscoitinho chamado like.

É ver pra crer...

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Sobre o google ser uma Vila de Potemkin, os Anéis da Web (webRings) e os Youtubers processando informação

 

Quando o marechal Gregório Alexandrovich Potemkin quis impressionar sua amante Catarina, a Grande, levou-a para conhecer uma aldeia falsa na Crimeia em 1787. Tudo ali era fachada para impressionar sua amada com uma falsa cidade, toda bonitinha na frente, mas escondida atrás de um cenário.

É provável que essa história também seja falsa. Não existe evidência alguma de que esses eventos tenham de fato acontecido, mas a vila de fachada é usada hoje para descrever conceitos falsos como o buscador do google. 

Um youtuber fez uma pesquisa escrevendo a palavra "pizza" no buscador da google:

 

Mais de 1.000.000.000 de resultados. Legal né? Seria se não fosse completamente falso.

Fiz a mesma pesquisa e como no vídeo vamos rolando as páginas, empilhadas de 10 em 10. Faça um teste.

Cada página seguinte é mostrada de 10 em 10.

Se você for até o final, verá que não existe 1 bilhão de resultados, mas no máximo 322 ou menos:

Você deve estar pensando: Ok, você precisa repetir a pesquisa incluindo os resultados omitidos. 

Quando fazemos isso, no entanto:

As pessoas começaram a reparar nisso e nomear o google de Vila de Potemkin, pois a quantidade de resultados que o google diz que trazia eram fake. A internet é grande, sem dúvidas há muito mais páginas sobre pizzas e qualquer outro assunto que imaginemos, embora aquela internet primitiva por certo esteja morrendo.

A google, vendo que foi desmascarada em um vídeo viral, retirou a quantidade fake de resultados. Se você fizer uma pesquisa hoje, verá que não aparece mais 1.000.000.000 de resultados.

Eu sinto muita falta de ler blogs e ainda acompanho os raros casos que ainda fazem postagens. Mas o google não os mostra mais nas buscas. É notório que blogs, aqueles antigos e quase nada da antiga web é mostrada no google. Ele suprime resultados com critérios que nós não sabemos.

Você pode comprar relevância nas pesquisas, como faz o Brasil Paralelo ou sites como Canaltech. Portanto, é louvável se você deseja usar outros buscadores. Eu indico o Fuck Off Google. Você pode configurar de onde você quer buscar. No meu caso, eu peço para ele também trazer resultados do wiby.

É claro que você não vai abrir 300 links no mesmo dia, a menos que te sobre muito tempo e vontade. Mas aquele velho antigo conceito de "surfar na web" parece não fazer mais sentido nos dias de hoje e precisamos admitir que era uma coisa muito legal. Hoje em dia, conforme já publicado aqui, a informação nos chega de forma ultraprocessada, de um modo que a gente não consegue lidar com tanta coisa ao mesmo tempo.

Essa matéria da Folha de São Paulo é de 13/08/97. A jornalista fala de um modo até desesperado sobre os anéis da web ou webrings, que funcionava muito bem na internet primitiva, que conforme eu disse anteriormente, hoje está morrendo.

Quem navegou na web naquele tempo, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, provavelmente tem uma lembrança de encontrar um site e através dele encontrar um outro e outro ou até mesmo dentro de um mesmo site surfar em links que te levavam para dentro dele mesmo.

Com o tempo, você tinha salvo em seus favoritos os lugares que você gostava de visitar, acompanhar e todas as vezes que abria a internet visitava mais ou menos as mesmas coisas, mas claro, sempre tinha algo novo a ser descoberto.

Se hoje você fizer, digamos, uma pesquisa pelo YouTube, não é estranho que apareça sempre canais muito parecidos, falando sempre as mesmas coisas, com o mesmo tipo de linguajar, referenciando sempre os mesmos vídeos (normalmente aqueles que se tornaram virais).

Por exemplo, se Borboleta for um assunto de relevância no momento, todos os youtubers falarão da mesma coisa, da Borboleta, referenciando o vídeo ou onde nasceu o assunto Borboleta. É como se tudo já estivesse pronto e definido para você.

Mas nem sempre foi assim. Tudo era como cidades independentes onde escrevíamos o que bem entendíamos sem precisar pensar em algoritmos manipulando tudo. 

Hoje nós nos dobramos aos algoritmos. Os youtubers, que tenho a impressão de já terem sido mais livres no passado, seguem sempre um mesmo ritual. Fazem uma abertura, criam vinheta (que até hoje eu não sei pra que serve), choram seu like, seu dinheiro (mesmo que recebam 6 dígitos em dólares da plataforma), enchem o saco com recadinhos idiotas que ninguém quer saber, fazem uma publicidade da super camisetaider que custa caro porque precisam sustentar 6000 famílias de podcaster, fazem aquela chantagenzinha básica pedindo seu dinheiro pro canal continuar, compartilhamento, inscrição...

Só então entram no assunto do vídeo que de originalidade não tem nada. Você tem a impressão de que já viu outro fulaninho falar quase a mesma coisa que ele. Claro, ninguém precisa necessariamente ser original, mas muitas vezes a crítica já vem baseada na opinião que outra pessoa deu e assim funciona todo o fluxo. Muitas vezes eles começam com fórmulas como "eu não ia falar sobre isso" (na verdade ia sim) porque, cá pra nós, o YouTube induz você a postar o que está dando relevância. 

Além do mais, o YouTube desmonetiza certas palavras feias que todo adulto não pode ouvir não é mesmo? Tipo racismo, estupro, suicídio... 

Na antiga web, não é que a gente encontrasse informação de extrema qualidade. Nada disso. Eu sinceramente não entendo direito como é que parece que as coisas desapareceram de um dia para o outro. Mas até hoje, é importante entender que não precisamos dessas big techs pra criar nada, nem pra opinar. Criadores podem criar sem depender de big tech nenhuma. Só você e seu processo criativo.

Eu sei o que muitos pensam, que eu falo isso enquanto escrevo em um blog do google. Eu concordo, por isso estou dando um jeito de levar isso pra uma página pessoal. Sem dúvidas não precisamos também criar tudo em um local só, embora o blogger seja uma ótima ferramenta, que ainda costuma funcionar como era antes.

Tem o problema de visualização. As pessoas hoje querem viver de internet. Eu conheço pessoas que queriam publicar suas ideias, escrever... Mas não fazem isso porque acreditam que não se expressam muito bem. Eu sou uma dessas pessoas e é pra isso que me presto a escrever. Primeiro porque ainda acredito que blogs funcionam muito bem e depois que eu não preciso me submeter às regras do YouTube pra gerar informação.

Nós nos esquecemos do básico. Aquele básico que funciona, aqueles conceitos que sempre estiveram aí e foram se sofisticando como os anéis da web, mas que atendem muito bem o propósito da comunicação livre (e eu digo livre, sem precisar de uma big tech dizendo o que fazer e o que você precisa ver).

Antigamente, procurávamos livremente por informação pela internet, hoje tem gente que paga um clube de livro só pra receber recomendação de leitura do influencer. Francamente... Você acha mesmo que precisamos disso?

Eu sei que muitas pessoas vão preferir ouvir um conteúdo do que ler. Eu também escuto podcast e entro no YouTube. Mas tenha em mente que a internet é um horizonte muito, muito vasto e há muita informação por aí que vai além das fronteiras do que somente o que o google ou a Meta quer que você veja.

Eu tenho fé que nós não deixaremos a boa e velha internet morrer. Qualquer assunto pode ser escrito e compartilhado, criticado e falado sem nenhuma necessidade que uma big tech processe isso.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Os bloqueadores fakes dos senhores das Big Techs

 

Há muitas dicas espalhadas por aí sobre como transformar o seu smartphone em um dumbphone, que seria uma versão mais antiquada e básica de celular. Inclusive muitas pessoas ainda usam flip phones, aqueles dobráveis e tentam fazer o que podem para rejeitar a conveniência. Acredito que seria bom se alguém inventasse um "caminho do meio", um tipo de celular que atende as nossas necessidades de hoje, mas que não fossem coisas ridiculamente viciantes como essas que temos aí. Tenho fé que um dia isso acontecerá. O que podemos fazer é arranjar um jeito de não gastar nosso tempo zumbificados nesses aparelhos.

Eu já tentei pela força da vontade e não deu certo, então fui na força bruta e trancafiei o celular. Depois de muito esforço eu consegui tirar a necessidade de viver grudada no celular. Contudo, eu já tentei métodos de controlar o uso do celular por aplicativos oferecidos na playstore e até mesmo no próprio app androide, o Bem-estar digital. Nada adiantou, então eu desisti. Se é pra usar a força, então precisamos aplicar algo que funcione e os apps oferecidos hoje são insuficientes.

É uma ironia que o smartphone foi algo feito para nos viciar e ao mesmo tempo você pode encontrar "soluções" pra isso que prometem ajudar, mas a maioria das pessoas, eu aposto que não se beneficia delas porque você pode facilmente burlar. É tudo uma fachada, um fingimento que estão te dando uma solução, mas não estão. O Bem-estar digital, por exemplo, oferece opção tanto para você bloquear algum aplicativo após determinado período de uso estabelecido ou você também pode informar um intervalo de período que alguns aplicativos podem ficar bloqueados. Por exemplo, das 9 às 18. Então ele bloqueia e você desfruta seu dia impossibilitado de abrir esses aplicativos. Seria bom se não fosse burlável. 

Se eles deixassem você bloquear também as configurações, aí eu botaria uma fé que temos algo que se pode usar a força. Caso contrário, se você consegue burlar, então nada ali está realmente bloqueado. Assim é com os stories do instagram. Mesmo silenciando e colocando no final da fila, eles ainda estavam ali, só que com marca d'água pra você acreditar que realmente silenciou. Eu já silenciei todos que eu seguia e ainda sim os stories continuam aparecendo, mas com marca d'água. O whatsapp também te dá uma opção de esconder os stories, mas é só clicar numa setinha e você consegue ver de novo. Ele só retira mesmo as notificações, vai do seu esforço não olhar e sinceramente, eu não acho que deveria estar fazendo esforço com um celular na mão.

Como esse retângulo preto consegue nos dominar completamente?

Me fiz muito essa pergunta até um dia parar de estragar meu psicológico com perguntas das quais sabemos as respostas. Essa coisa está aí para sugar a nossa atenção e eu não vejo muitas perspectivas de mudança tão cedo.

Como repeti muitas vezes, o que eu fiz foi me retirar das redes sociais e não dar login em mais nenhuma delas, por mais bem intencionada que seja. Se o orkut voltasse a existir eu não daria login nele porque acho que essa época já foi. O que vivemos lá atrás não voltará mais a acontecer. O Orkut foi a última rede social humana e nem tão cedo veremos outra aparecer.

Eu não consigo ser como aquelas pessoas que acessam as redes 15 minutos por dia ou que nem entram. É muito difícil reduzir o uso e mediante a tantos escândalos e tanta sacanagem dessas big techs, eu acredito que abandonar o navio é o melhor caminho no momento.

Quem consegue usar esses bloqueadores fake, ótimo. É bom se comportar e não burlar, mas é muito difícil. Eu não tenho soluções mágicas de redução de uso. Não vou sugerir que use bloqueadores se não funcionam e nem dizer pra você encontrar solução dentro do seu próprio celular. Nada disso funcionou pra mim, o que funcionou foi ter usado exercício de respiração, não levar o celular para a cama e arranjar outras atividades. É muito difícil no começo, mas garanto que dá certo.

Solucionismo digital só dá certo no digital. Na nossa vida prática e real, o que temos que fazer é voltar a viver a realidade.

Profissionais de saúde fazendo dancinha



Eu tenho uma amiga nutricionista que durante muitos anos alimentava um perfil no instagram. Era uma pessoa bem ativa e acreditava ser inadmissível deletar sua conta, o trabalho dela dependia muito daquilo. Assim, a rotina dela como profissional era colocar em seu planner os assuntos que ela postaria, reels, stories e carrossel de fotos.

Quando algum boçal aleatório criava polêmica falando algo de errado sobre nutrição, lá estava minha amiga para desmentir, como diversos de seus colegas que se formaram e levavam ciência a sério. Os vídeos davam muita visualização e ela sempre conseguia novos clientes. Fazia lives com outros influencers de mesma profissão e assim um divulgava o outro e tratavam de assuntos conforme suas especialidades.

Mas um dia, algo deu errado e a saúde mental da minha amiga colapsou. Ela teve um burnout bem feio, precisou ser medicalizada. Ela ficou pensativa sobre o que havia de tão errado assim, já que levava uma vida muito tranquila, ia cedo para o consultório, atendia, às vezes passava do horário, mas nada que a deixasse cansada demais, ela sabia lidar bem com isso. Ela estuda bastante, é verdade, mas isso nunca foi um grande problema, ela gosta do que faz. O que havia de errado? 

Minha amiga trabalhava muito em suas redes sociais e de graça. Isso a fazia acumular mais seguidores que clientes. É bem verdade que a agenda dela ficava cheia, mas isso, de acordo com ela, não se diferenciava muito do que ela fazia antes de ter uma conta no instagram. 

A informação que ela lançava atingia lá uma grande quantidade de visualizações, mas isso tinha um custo porque quem curtia recebia conteúdos não só dela, mas ligados aos assuntos que ela tratava. Ou seja, ela contribuía pra inflar a bolha algorítmica para que o instagram leiloe publicidades. Ela estava trabalhando de graça para o instagram aprender e gerar conteúdos para os usuários que nem eram dela. Então ela tomou uma dura decisão que foi deixar o instagram e alimentar o seu site pessoal. Ela ficou surpresa porque não mudou muita coisa. Ela não precisa mais trabalhar de graça e nem fazer dancinha pra alavancar seguidores, só precisa pagar um anúncio que o google encaminha seu site por região.

Ela reclamava muito da carga emocional que certas coisas traziam a ela. Um exemplo disso é quando algum desocupado charlatão fala besteira e os profissionais sérios o desmente. Eu penso: isso nunca vai parar? Sempre vai ter um maluco falando bobagens sobre alguma coisa científica e um profissional estará de prontidão pra desmentir (e vai perder)? Mas se estamos falando de rede social, esse tipo de atitude vale a pena e quando minha amiga fazia isso, muita gente não gostava e fazia comentários que, como sabemos, pessoalmente não teriam coragem. Por mais que a gente tenha sangue pra aguentar, nem sempre essas coisas passam despercebido e podem nos deixar abalados em algum nível.

Mas quem decide ser amigável com você apenas por ética? Quando se trata de rede social, a polêmica e o engajamento vale muito e isso seguramente levará dinheiro e publicidade aos envolvidos. Se me perguntam se tenho algo contra que um profissional formado faça dancinha, eu vou dizer que não. É evidente que as pessoas fazem o que bem entendem de suas vidas e com seus diplomas. Mas é preciso também sempre pensar e muito os custos disso no presente e no futuro. Você realmente precisa mesmo se submeter ao que um algoritmo quer pra ganhar dinheiro? Acho que a parada de lutar por condições mais dignas de trabalho é muito mais válido.

De repente todo mundo aceita que essas big techs tenham o monopólio de toda a comunicação, acreditam que é indispensável não ter rede social e quando tem, sabem que os conteúdos que mais geram visualizações são aqueles que contém polêmica, dancinha, brigas e por aí vai.

Eu já abandonei cursar em locais que não te dão escolhas e jogam na sua cara que se você não tiver rede social, não vai saber o que está acontecendo. Já parei de praticar Muai Thay em uma determinada academia porque eu não tenho conta no Instagram e era o único meio que eles davam de saber dos horários e avisos de quando não haveria aula. Sempre publicavam nos stories deles e eu não preciso passar por esse tipo de estresse.

Às vezes precisamos sair um pouco da conveniência para não virarmos escravos dos desejos de um. Quem sabe o que ganho escrevendo um blog que sei que quase ninguém lê. Mas eu tenho fé que no futuro as coisas podem sempre mudar e nós encontraremos uma saída.