segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Cemitério dos Blogs e o lance dos Vila Boys (Nostalgia)


 

Houve um tempo que você não via muitos vídeos por aí e também não havia redes sociais. A gente navegava na internet e o que tinha pra ler era blogs e home pages pessoais, grande parte feitas no antigo geocities. Os servidores tinham seus blogs, como a uol com o zip.net e a ig com o blig. Nenhum deles existe mais, ficamos apenas na saudade dessa era dourada dos blogs. Durou bastante e sei que blogs ainda existem, mas não chega perto do que foram antes e eu nem tenho palavras pra explicar como era a sensação de quando chegava a hora da internet e a gente saía surfando na web noite adentro.

Quero ressaltar ainda, que naquele tempo, a gente não tinha corretor ortográfico nas páginas, quando você tinha dúvida sobre algo, era preciso abrir o word e escrever a palavra lá pra ser corrigida. Mas muitas pessoas não se davam ao trabalho de fazer isso e o resultado era centenas de blogs escritos com um português totalmente errado. E se até hoje as pessoas se importam com isso, deixo pra que você pense como era 500 vezes pior nos anos 2000, tempo esse que ninguém se importava em fazer comentário machista e homofóbico.

Nessa época, ali entre 2002 e 2009, era muito simples encontrar blogs. Na verdade, arrisco dizer que 80% do que vinha no buscador eram blogs. Talvez os blogs fossem uma rede social mais livre e independente, que não usavam algoritmos pra te persuadir, mas o caso é que nós visitávamos blogs interessantes dos quais eram indicados outros blogs e assim fazíamos a cadeia de lugares comuns pra dar uma passeada. No meu caso, eu pesquisava um assunto, encontrava blogs e voltava sempre pra ler. Esses blogs indicavam outros parecidos e eu também seguia. E dentre tantos blogs que visitávamos, havia aqueles estranhos, cheios de gifs que tornavam a leitura de tudo impossível, erros grotescos de português e assuntos muito estranhos. Fora quando os donos desses blogs não colocavam hello kitty em tudo, algo que me foge um pouco à compreensão pq aquilo fazia tanto sucesso. 

Vamos a alguns exemplos do que estou falando:

Kantinho da Bombom

Kompulsividade

kriptys

kda1comseusproblemas

cifinha_bom_de_ideia

tentandoemagrecer

 

nadiakitty

Nenhum desses blogs estão mais disponíveis, infelizmente. Isso foi o que restou deles e eu resgatei no wayback machine.

Diante de tanta esquisitice escrita errada, com informações que nem sempre podiam ser verificadas e com a estética bem típica dos anos 2000 (mas bastante duvidosa até pra época), muitos desses blogs eram expostos. Hoje não vemos mais coisas do tipo "10 perfis do facebook que são um saco" ou "10 tipos de perfis que você encontra no facebook" ou a famosa "pérolas do orkut". Isso porque a estética das páginas foram simplificadas e existe corretor ortográfico. Além do que, checar a verdade se tornou algo até importante, embora a gente saiba que grande parte das pessoas ainda caem em golpes e charlatanices. Mas aí é outra história. Ao menos o maluco que escrevia que Hitler era da magia negra de esquerda não tinha atenção nem respaldo. Hoje em dia esses caras perceberam que as próprias pessoas intelectuais trabalharão de graça pra eles achando que estão informando sobre a verdade, mas nada mais fazem que compartilhar e viralizar conteúdo de maluco querendo faturar em cima da ingenuidade alheia. Pablo Marçal tá aí pra confirmar isso...

A exposição de blogs fazia bastante sucesso, assim como fez sucesso as listinhas com tipos de coisas que a gente encontra aqui e ali. Já foram populares e hoje caíram em desuso. E nesse contexto, surgiu o blog "Cemitério dos Blogs", cujo o seu criador, o Coveiro Zé, "enterrava" blogs como esses que trouxe de exemplo, Kantinho da Bombom, Malookinha, Linitchas, Crazy Panda e por aí vai. Se você quiser olhar o cemitério dos blogs, clique aqui. Ele não existe mais, só é possível acessar através do wayback machine.

Eu não sei quem foi o Coveiro zé, mas seu blog fez um imenso sucesso na época. Quando o volume das coisas que tínhamos pra ler na internet, grande parte se resumia a blogs, era muito interessante ver gente zoando com adolescentes carentes que criavam conteúdos com poesias desajeitadas, cópia e cola de bobagens na internet, recorte de suas vidas com coisas banais (como tirar xerox na faculdade, ver o sol se pôr, dormir no colégio) e por aí vai.

Eu era jovem também. Nessa época eu ia pra faculdade e gostava também de visitar o blog que meus colegas escreviam, em grande parte porque eles escreviam coisas que aconteciam na sala de aula. Se eu soubesse que a internet se tornaria o que se tornou, teria aproveitado mais essa época. Não sou uma nostálgica que acredita que tudo deve ficar no lugar, não é isso. É só que antigamente não havia um algoritmo mandando no que as pessoas faziam, elas só faziam. Postavam o que dava em suas cabeças sem se preocupar nem mesmo se alguém "enterraria" seus blogs.

O cemitério dos blogs tinha um grande volume de visitas. Em 4 meses, conseguiu mais de 50 mil visitas. Parece pouco para os padrões de hoje, mas naquela época isso era impressionante.

 


Na época quem encontrou esse blog foi meu irmão. A gente entrava todo santo dia, esperando ver o próximo blog que seria "enterrado". Até que um dia apareceu os Vila Boys.

Claro que na época a gente achou isso muito cômico. Tratava-se de 6 caras jovens que andavam enturmados em uma vila da zona sul do Rio de Janeiro como se fossem uma boyband, mas eram só garotões que se achavam o máximo. Tanto que tiveram auto estima suficiente pra fazer uma página.

Os caras colocavam até as marcas que vestiam
 

Provavelmente eram 6 playboys que talvez por terem um pouco de condições financeira melhor, ficaram famosos no bairro que moravam. Acredito que boa parte das pessoas presenciaram coisas assim na juventude. Não nesse nível, de nomear o grupinho como se fosse boyband, mas todo mundo deve ter visto um grupo mais popular de pessoas que andavam por aí e eram conhecidas.

Os caras postavam até o point que iam:

 E pelo visto colavam bastante nessa antiga boate El Turf

 

Vila Boys tinham seus singelos perfis e gostavam todos de "curtir a night":

 


Basicamente consegui desenterrar assunto de 20 anos atrás. Vila Boys hoje devem ser homens quarentões, talvez casados, com a vida resolvida, não dá pra saber. A única forma de ver a antiga página ou o que sobrou dela é aqui, através do wayback machine. O passado é passado, o que tá feito, tá feito. Só podemos lembrar que foi, antes de tudo um tempo muito bom pra navegar na internet.

Esse Vila Boys, por alguma razão nunca mais me saiu da cabeça. Na época achei isso muito engraçado e fiquei anos tentando encontrar a página dos moços novamente sem sucesso, até lembrar do nome do blog Cemitério dos Blogs. Essa era uma época em que se usava internet, mas também se saía pra curtir a night.

Era uma época que, devido a um algoritmo pra ditar o que fazer e o que não fazer, as pessoas arriscavam e muito simplesmente fazer o que lhes dava na cabeça.

Vejo que hoje timidamente, muitas pessoas postam conteúdos criticando redes sociais e até fazendo um esforço pra que as cidades digitais voltem a imperar. Não é vontade de que tudo seja como antes, é apenas para que a web não se perca nas mãos dessas big techs.

Não espero que alguém dos Vilaboys achem esse blog, ou o coveiro zé, do qual nunca mais ouvi falar mais nesses longos anos de internet. Eu não sei se ele tentou se reciclar e produzir outros tipos de conteúdos. Mas quero deixar aqui meus agradecimentos, por ter feito aquela época tão feliz. 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Seu tempo de tela e suas experiências de vida


 

Passeando no YouTube eu achei um canal que resume filmes. Fiquei curiosa e fui dar uma bisbilhotada, os títulos são bem chamativos e é narrado com as imagens dos filmes. Assim, conheci esse estilo de vídeo em que é narrado todo o filme de uma forma mais resumida e rápida. Isso te desobriga a ir dar um play lá no seu streamer porque o youtuber já fez o trabalho de passar tudo bem mastigadinho para você.

Há quem comente que é melhor que netflix, acredito que isso se deve à tiktokização dos conteúdos: sempre rápidos e resumidos pra você consumir o máximo possível e doar todo o tempo de sua vida às telas. Ler fica difícil, assistir vídeos em ritmo lento, uma coisa por vez, com paciência e sem encostar no celular também fica cada dia mais complicado.

Isso nos tira a paciência até de prestar atenção no que as outras pessoas falam e consequentemente aceleramos vídeos porque não há paciência com conteúdos longos e bem explicados. Isso é preocupante.

Li um lance de "Brain Rot" ou apodrecimento cerebral e não quero ser só mais uma chata repetitiva que replica hypes do mesmo jeito falando de dopamina ou sei lá o que ou voltando lá atrás no homem das cavernas, ignorando totalmente a cultura que estamos inseridos. A grande questão aqui é que nosso cérebro realmente foi modificado. Aconteceu algo com ele que, de repente perdemos a paciência de ler, de escrever, de olhar pro horizonte e ficar tranquilo, de prestar atenção em um filme...

E aí, esses canais que resumem filmes prosperam porque eles possuem um título chamativo, o narrador fala com uma voz branda e reconfortante e vai narrando sem enrolação, sem esmolar like, sem vinheta ou tolices do tipo. Resume 1 hora de vídeo em 20 minutos e mostra as imagens focando nos pontos chaves e principais da trama. Pra quem, há muito tempo perdeu a paciência, esses canais são um prato cheio.

Um amigo tentou assistir o filme "O Irlandês", que tem pelo menos 3 horas de duração. Ele disse que chegou no limite em meia hora de filme e que começo dar ranço nele prestar atenção numa obra tão longa. Que bom que ele foi sincero.

Eu disse a ele que nos anos 2000, aposto que ele assistiria tudo prestando atenção. Não havia celular, ele não ficaria checando. Ele pensou, mas não me respondeu nada. Hoje em dia, quem consegue prestar atenção num filme sem encostar no celular? Até no cinema eu já vi gente mexendo no celular.

Nesse aspecto, nossa mente está apodrecida e doente. Como de repente a gente não consegue mais ler nada e passamos a consumir esses vídeos curtos sem nos darmos conta de que isso é prejudicial? Apenas aceitamos qualquer coisa que nos dão de bom grado e isso vai fazendo mal.

O google também está matando o que resta dos blogs. Há quem ainda escreva, como eu, mas isso aqui jamais aparecerá nas pesquisas. E também existem locais que substituem os blogs como Medium e Substack. Ambas plataformas oferecem monetização. Eu não acho isso errado, mas não pago pra ter informação. Não estou desvalorizando o trabalho alheio, nada disso. Acontece que eu acredito em certos ideais em que cobrar por informação não está entre eles.

Eu não sou contra a mídia falada, vídeos e podcast. Eu acompanho muitos e até sou usuária de audiobooks. A grande questão é que eu conheci uma internet em que você não precisava assistir vinheta, nem ouvir youtuber esmolar like, socar propaganda da camiseta bosta ou qualquer outra coisa, ouvir um monte de lenga-lenga até entrar no assunto do vídeo. Isso quando os youtubers, entre uma fala ou outra colocam um vídeo de meme aleatório.

Enfim, voltando aos tais vídeos com resumo de filmes, eles não possuem essa linha. Eles vão direto e conseguem angariar milhares de visualizações resumindo filmes pra uma geração que não consegue mais prender a atenção em nada.

Me pergunto todos os dias, como fomos trocar os blogs por vídeos... Ok, eu não quero ser injusta. Ambas coisas tem seus encantos, mas vejam o que o youtube se tornou, uma máquina de gente sedenta por dinheiro, fazendo qualquer merda pra viver de renda tendo que trocar a liberdade do que falar e postar apenas pra ter o hype do momento.

Ok, vamos lá... Sei o que você deve estar pensando, né? Havia o saudoso "Estraga Filmes" e ainda existe o Final do Filme, que se dedica a contar o final dos filmes, revelando o enredo e oferecendo explicações. Eu lembro que procurava essas mídias quando precisava de alguma explicação sobre o final do filme, tal como vejo muitos youtubers explicando o final do filme, não resumindo o filme todo pra você porque você não quis assistir.

Hoje, quanto mais rápido for alguma coisa, melhor. Você acelera vídeos, busca resumo, só vê vídeo curto e há tempos perdeu a paciência de ler, certo? Se isso não te preocupa, fecha esse blog e se joga. Mas se isso há tempos te incomoda, queria dizer que isso tem jeito.

Não é simples e eu não tenho uma forma de te mostrar como. O que tenho a dizer é que é preciso reagir, tentar ver menos vídeo, praticar o mindfulness (atenção plena), desligar o celular algumas horas do dia e forçar a ler um livro, nem que seja duas páginas por dia.

Ainda podemos fazer da internet um lar agradável novamente. 












quinta-feira, 29 de maio de 2025

Influencers estão causando uma crise sanitária com bets

 

 

Eu não vou comentar a respeito dessa falcatrua que foi a CPI das Bets e a senhora Virgínia Fonseca usando aquela palhaçada toda pra promover suas publis. Não quero acabar com minha saúde mental que já não é muito das melhores. Agora os noticiários publicam a respeito da traição de seu marido e isso pode ser uma cortina de fumaça pra esconder o assunto das bets, que cá pra nós, pegou mal pra caralho.

Não quero me prolongar nesse texto, pois a revolta que sinto é grande e isso atrapalha minha vontade de escrever porque eu só consigo sentir algo e não colocar em palavras. Esses influencers estão causando uma verdadeira crise sanitária. Eles se focam maldosamente e sem qualquer escrúpulo no público jovem e mais vulnerável que os segue e tem essa relação de confiança.

Isso causa impactos devastadores na saúde mental, depressão, ansiedade e pânico. Causa endividamento grave, suicídios e isolamento familiar. Depois, não é o influencer que fará nada por essas pessoas, mas é o dinheiro público que será gasto para o tratamento desses vícios em apostas. 

Os influencers dizem com imensa maldade "joga quem quer". Não é assim tão simples. Toda vez que uma empresa vende algo, é necessário também que o consumidor tenha seus direitos e proteção. Uma empresa não pode vender produtos vencidos e nem comida estragada. Não pode vender coisa quebrada sem sofrer as penalidades da lei. Não pode fazer venda casada e nem esquema fraudulento de enganação como a dona Amazon atualmente com essa história de colocar publicidade nos filmes do streaming e cobrar mais caro pra retirar. Que proteção tem o consumidor dessas porcarias de bets? Nenhuma. Não vai pra lado nenhum isso, os influencers ganham e ninguém é punido.

A coisa é tão revoltante que esses lixos se sentem muito seguros pra entrar no senado e falar na maior cara de pau o que bem entendem, que não são responsáveis por quem aposta e joga quem quer. Nada acontece com eles, nem com essas empresas. É fácil julgar as pessoas quando não se está olhando o desespero delas. Eu sei que há quem alegue que a culpa é de quem entra nessa sabendo que isso é furada, mas pense bem em quantas vezes a gente mesmo não foi enganado por falsa propaganda. É um caminho longo para o entendimento de que certas coisas não valem a pena comprar e até que isso aconteça, a gente já gastou nosso dinheiro com coisas que hoje julgamos que não valeu a pena.

Se temos essas informações, ótimo, mas nem todo mundo tem essa consciência. As coisas não são perfeitas, mas se alguma empresa te sacanear, você pode acionar o Procon e brigar por seus direitos. As bets, ao contrário não tem regulamentação de nada, o influencer fala o que quer, as empresas conduzem da forma que bem entendem e a crise sanitária de saúde mental vai se agravando. O que o influencer faz de bom além de sugar o seu dinheiro? Analise bem. Eles não tem serventia pra nada, além de entretenimento barato pra pessoas que já nem sabem porque ficam olhando aquilo. Talvez performar a vida seja mais atraente que viver uma vida autêntica.

Eu acredito que essas coisas deveriam ser legalizadas, regulamentadas e a propaganda proibida. Se as big techs descumprissem as normas, o peso da lei deveria recair sobre elas, afinal, plataformas digitais como o instagram não são coisas inocentes e orgânicas, mas sim uma empresa de publicidade, que usa todos os artifícios pra te manter lá por horas e horas a fio, sugando seu tempo e sua saúde mental.

Sabe aquele anuncio que tem nas latas da cerveja? Algo mais ou menos assim:

"Beba com moderação"

Pois é, essa coisa aí é obscura pra caralho porque o que seria essa moderação? Um copinho americano de cerveja? Um dedinho de whiskey? Duas latas de cerveja? Meia garrafa de vinho? Enfim, não dá pra saber o que seria essa moderação e se todo mundo exercesse isso, essas empresas não lucrariam. Quem coloca esse "beba com moderação" no cantinho da latinha da cerveja é a própria indústria do álcool porque não existe uma regulamentação que os obrigue a colocar ceninhas degradantes como dos 7 tipos de cânceres que sabidamente essas merdas podem causar, mais ou menos como é o verso do maço de cigarro. 

Se não há regulamentação, as empresas farão o que bem entenderem, não duvide disso. Se elas podem, elas farão, a propaganda será agressiva, elas vão usar os influencers pra obter todo lucro possível, eles vão querer seu seguro desemprego, seu décimo terceiro, seu benefício social, seu pé de meia, sua renda extra, vão querer que você faça empréstimo e nada disso vai bastar. Eles vão sugar a sua alma, te deixar viciado e mesmo que você se recupere, aquela vontade de sucumbir ao jogo sempre estará lá. Não há dúvidas de que a sua alma está na jogada e os influencers vão ficar cada vez mais ricos e futuramente serão lembrados por causar essa desgraça de crise sanitária.

Sei que sou só uma pessoa entusiasta que há anos escrevo esse blog por escapismo e porque aqui é um espaço que ainda posso falar mal dessas coisas sem censura. Eu não tenho relevância, sou só uma pessoa comum que desistiu das redes sociais e gostaria que todos desistissem e debandassem também. Por outro lado sei do poder que essas desgraças tem sobre as pessoas, mas acredite: todo esse poder que a big tech exerce sobre você, é dado a eles de bom grado. Você acha que isso é necessário e não é. Se é necessário pra influencer ganhar dinheiro, ok, mas antes de mais nada, você está lá pra dar dinheiro a eles. Não defenda essas pessoas. No dia que tudo der errado, eles estarão salvos, deitados numa pilha de dinheiro e você não terá nada. Some isso com a saúde mental em frangalhos e pronto.

Precisamos reagir. Eu sou entusiasta de uma velha internet que ninguém precisava ver 20 publicidades pra acessar um conteúdo, nem dar dinheiro nenhum pra influencer pra obter informação. Aqui escrevo porque sei que as pessoas irão ler de graça e quem sabe refletir. Vamos viver uma vida autêntica e fazer bom uso do nosso dinheiro e saúde mental.


 

Por que vocês escutam influencer fitness?

 

Mais ou menos no ano de 2008, pelo que me lembro, ainda na era dourada dos blogs, li uma postagem falando algo do tipo: "As 10 dietas mais bizarras do mundo". Até encontrei um antigo blog falando sobre isso. Naquela época, apesar de dietas serem populares, essas bizarrices ocupavam um lugar obscuro e marginal no grau de importância da vida.

Eles satirizavam, por exemplo, a dieta uga uga, um deboche para o nome dieta paleolítica. Pra mim isso é algo extremamente risível até os dias de hoje, mas qual não foi minha surpresa ao ver que as coisas mudaram em um nível que o povo decidiu dar algum respaldo científico pra essas bobagens e discutem os riscos, benefícios e diversas nuances dessa tal dieta que num passado nem tão remoto considerávamos bizarrices proferidas por um grupinho de fanáticos.

Alguns influencers andaram virando a chavinha do conteúdo e decidiram entrar nesse universo fitness porque isso dá dinheiro e mais atenção, nem que pra isso falem bobagens sem ter estudo e embasamento adequado.

Houve um tempo que tinha a Gabriela Pugliesi falando um monte de asneiras sobre exercício físico e dietas. Hoje em dia, há legiões desse tipo.

Gracyanne Barbosa, uma celebridade fitness que se não me falha a memória, tinha muitos haters. Os comentários em suas postagens eram o puro suco do ódio. Hoje em dia chamam ela de musa. Saliento que nunca achei nem um pouco legal o hate que Gracyanne recebia. Nunca vi motivo nenhum pra atacar alguém de graça assim, muito menos por causa do corpo. Meu ponto aqui é que as coisas sempre podem mudar. Ontem era ridicularizada, hoje é uma musa inspiradora.

Conteúdo sobre emagrecimento e ganho de massa está por toda internet. Charlatões propagando tolices sobre alimentação e profissionais sempre dispostos a respondê-los desmitificando eternamente essa porcalhada anticientífica.

Fazer checagem de fatos pode ajudar algumas pessoas, mas de modo geral, não é tão relevante. Se uma mentira ganha status de verdade, ela passará a ser verdade. Por isso você vê tanta gente estúpida falando que não pode comer fruta, glúten, lactose e outros alimentos frescos, mas pode usar anabolizantes, insulina e suplementos controversos livremente, conseguem milhares de seguidores e fiéis de seita, que se sacrificarão por eles e gastarão seus dinheiros com procedimentos duvidosos.

Um dia me enviaram um vídeo de uma senhora comendo uma barra de manteiga como se estivesse mordendo um pastel. E ainda falava trocentos rios de bobagens sobre dieta carnívora, o que me faz pensar que, se esse era o objetivo do nosso desquerido lagarto reptiliano Mark Zuckerberg, de fazer tolices se tornarem amplamente difundidas ao ponto de virarem falsas verdades, meus parabéns, ele conseguiu isso com sucesso. Sempre haverá quem acredite que a terra é plana.

O dia é difícil, o metrô tá lotado, você nem sempre tem tempo pra cozinhar e ainda gasta seus preciosos minutinhos ouvindo charlatões. Se não pode fazer uma refeição, compre o pacotinho mágico não sei do que e vire ele com leite. Ou faça jejum a noite, depois de um dia exaustivo de trabalho. Esqueça seus problemas financeiros e gaste um tubo de dinheiro no suplemento da influencer picareta das bets. Acredite que você terá o bumbum da Barbara Borges apenas usando método controverso de aeróbica. Ou que terá um físico igual do Ramon Dino comendo tapioca e usando o cupom de desconto da droguinha do influencer que recebe dinheiro do laboratório obscuro. Eles te iludem pra sugar o seu dinheiro.

Tome cuidado com esses influencers. É a sua saúde que está em jogo. Você não precisa se frustrar porque não consegue ir pra academia todos os dias. Nem precisa, na verdade, fazer academia se você não gosta, aprecie outros esportes. O básico na nossa vida sempre funcionou muito bem e logo não vai demorar para que tenhamos uma crise sanitária e a culpa é majoritariamente dos influencers que causam esses problemas. Muitos deles não servem pra nada, só estão lá unicamente pra sugar o seu dinheiro.

Por que você conta quantos livros você lê?


 

Eu nunca usei Tiktok na vida. Tudo que sei sobre essa rede são informações que vejo por aí, vídeos que os amigos compartilham e coisas que eventualmente vão parar no youtube. O instagram adotou o modelo de vídeos curtos nos reels e o YouTube também tem repetido essa mesma lógica no shorts. Dá pra se ter uma ideia do quão viciante que é o tiktok.

Uma coisa que andou me chamando a atenção, é que muitos Youtubers fazem vídeo falando a respeito de como o hábito da leitura tem se transformado no tiktok. Se por um lado há uma coisa boa em fazer todo mundo ler, por outro, existem pessoas que ficam ansiosas e tristes por não conseguirem ler o volume insano de livros que esses influencers do tiktok são capazes de ler. 

Na época que eu fui adolescente e estudava, não havia essa coisa de clube de livros, ao menos não tão acessível. Eu lia bastante, mas era algo bem individual, dificilmente as pessoas dividiam experiências de leituras e indicavam livros. Quando fui trabalhar com uma moça muito jovem, 24 anos, que tinha ainda lembranças frescas da escola, ela me disse que lia bastante desde a escola, plataformas de livros eram populares. Isso antes do tiktok. Agora, imagino que a coisa deva ter mudado ainda mais.

Eu já me peguei lendo livros que esses influencers indicam e até vi que as livrarias colocam selinho de livro mais indicado no tiktok. Parece que o mercado editorial deu uma esquentada com essas plataformas. Eu não acho ruim, sinceramente até aprecio a ideia de todo mundo ler. Mas há alguns problemas que vieram com isso.

Primeiro, contar quantos livros lê para uma certa competição, na minha opinião é como promover uma perda do prazer da leitura. Aquela leitura profunda, reflexiva, emocionante. Não que isso não ocorra quando você começa a contar quantos livros leu. Mas essa obrigação não é necessária. Mais vale ler um livro grosso com emoção e sem pressa, que 15 livros por mês do qual a leitura não serviu de muita coisa. E eu sei que é possível ler 15 livros e a experiência ser muito gratificante, mas sério, essa é uma falsa obrigatoriedade. É uma competição boba que não serve pra nada.

Se você está lendo um livro de não ficção como os de política, psicologia, história, biografias, etc, é ainda mais complicado porque esse tipo de leitura requer mais reflexão e por vezes é interessante fazer anotações e fichamento. Eu também tenho reparado que muitos desses influencers fazem anotações em seus livros, colam postits, marcadores de páginas, usam aquelas canetas grossas pra destacar frases e muitas vezes até fazem publi delas. Minha avó foi uma professora normalista. Ela deu aula da década de 30 até 60 e eu acabei herdando muitos de seus livros. Nenhum deles veio marcado. Não era um hábito que os antigos faziam e não é um hábito que eu faço. Eu só coloco marcadores quando é livro de estudo. Eu sou formada em filosofia, quando estudo um tema, então eu faço anotações e fichamento. Fora isso, não vejo muita necessidade de marcar livro que muitas vezes eu só vou ler uma vez. 

Mas ok, isso é algo muito particular. Sempre teve quem fizesse isso, minha mãe uma vez emprestou o livro dela e ele voltou todo rabiscado e marcado, o que a fez nunca mais emprestar seus livros. Hoje eu uso bastante leitor digital, o que facilita bastante pra mim, é o lado da tecnologia que eu aprecio. Nele, eu faço anotações, mas sempre marco livros que não são de ficção. Isso é um gosto particular de cada um, mas você não tem essa obrigação. Não faça isso porque viu a fulana do canal x fazendo ou a tiktoker rabiscando livros fazendo publi pra marcas que vendem essas bugigangas.

Eu vou contar um pouquinho do que aconteceu comigo. Houve um tempo que eu tinha engordado bastante e não estava me dando bem com algumas pessoas no trabalho. Estava complicado também me locomover até o trabalho, eu gastava mais de 3 horas pra ir e 3 pra voltar. Chegava em casa quase 9 da noite, cansada, não tinha muito tempo pra quase nada. Eu apenas abria livros, como sempre fiz e lia no transporte público. Aliás, ler no transporte público é um hábito que me acompanha há mais de 20 anos. Hoje em dia existe tecnologia pra ouvir audiobook e eu aproveito elas.

Nessa época eu apreciava muito os canais de booktubers e trabalhava perto da antiga livraria Saraiva. Eu sempre via as resenhas de livros e na medida que podia, entrava lá e comprava livros. Assim, acumulei mais livros do que eu realmente podia ler e muitos deles ainda estão jogados na minha estante. Nunca dei conta de conseguir nem começar e quando comecei, muitos deles nem terminei. Ou seja, consumir não tem nada a ver com realmente ler e se aprofundar na leitura. Antigamente eu ia na livraria, olhava a capa de um monte de livro e depois decidia qual levar. Comprava exatamente o que ia ler e lia com gosto. Hoje em dia, eu tenho muitos, mas muitos livros e quando já não tinha mais onde enfiar livros, eu ia lá e comprava mais. O resultado foi uma estante abarrotada de livros que, muitos deles eu estou decidindo por vender e doar porque eu realmente não vou ler.

Se eu puder te dar uma dica, é sempre pra exercer a paciência quando começar uma leitura. Livros não deveriam ser objeto de ansiedade, você não tem obrigação nenhuma de aceitar desafios de ler 15 livros por mês ou 80 livros por ano. Se você trabalha e estuda, livros deveriam ser usado pra descansar a cabeça, não pra gerar esse estresse. Você também não precisa ter uma estante cheia de livros. Eu li muitos livros clássicos e livros nacionais pegando emprestado na biblioteca da escola, o que, aliás, se você puder, ainda é possível fazer.

O que importa é o enriquecimento que a leitura proporciona, não fazer disputa pra ler mais ou acumular 500 livros na estante. 

 












quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Por que eu não vou criar um orkut, caso ele volte


 

Eu sou uma entusiasta da velha internet. Não que eu deseje que as coisas voltem a ser 100% como era antes, mas é que eu acredito que a internet é um vasto mar de infinitas possibilidades, um universo amplo demais pra permitirmos que toda a comunicação fique a cargo de uma ou outra rede social.

Um amigo até fez uma analogia com os shoppings: se todas as lojas estão num shopping, pra que vou querer ficar rodando por aí se posso ir num lugar só? 

Ora, você se limita entrando só no shopping, enquanto poderia encontrar coisas melhores e até mais baratas por aí afora. Acredito que a mesma lógica é a internet. Descobrir coisas, encontrar pessoas sem estar num mundo onde tudo tende a ser igual é uma ótima experiência. A gente quer se comunicar de qualquer maneira, se não tem rede social, fazemos isso de um jeito ou de outro. Embora eu saiba que blogs não andam em alta e não chegam nem perto disso, eu ainda mantenho esse modesto espaço por anos na esperança de um dia, talvez o blogs voltem a acender. Se isso irá acontecer, eu não sei, mas eu me recuso a difundir informações centralizadas em uma rede social.

Então eu me pergunto, se o orkut voltar mesmo, como ele voltaria? Seria a mesma coisa de 15 anos atrás, com emoticon de gelinho e coraçãozinho? Teria a mesma aparência azul e lilás, com comunidades, lista de amigos e rolagem finita? Você entra, vê o que quer e sai?? Ou esses caras usariam a lógica da economia de atenção? Eu me pergunto isso e tenho uma ligeira curiosidade pra saber como o senhor Orkut Büyükkökten redesenharia essa rede sem sofrer os impactos desses loucos anos de IA.

Chegamos a um ponto que a internet não significa só sair surfando e descobrindo, a internet parece ter sido tomada por algoritmos perversos que te levam a um local só pra reter sua atenção. Há quem ache que a internet é só tiktok e instagram. Ou youtube... Triste, mas infelizmente é real. Tem tanta coisa boa por aí, por que temos que ficar em um local só?

De fato, se o orkut voltar a ser como há 20 anos, ninguém precisa se preocupar muito. Não me recordo de chegar link invasivo, teorias conspiratórias e propaganda de joguinho a cada minuto. Ainda tenho lembrança específica de entrar lá, ir no perfil das pessoas, olhar as comunidades, dar um pouco de risada e sair. Mas isso é passado. Se voltasse hoje, não seria como nos anos 2000. Eu nunca vi épocas voltarem a ser o que eram, os momentos viram lembranças e o recado é que a gente aproveite enquanto temos.

Acredito que a aventura das redes sociais teve seu momento, seu pico na minha vida e eu não acho que são mais necessárias, se é que um dia foram. Foi divertido, triste, teve altos e baixos, mas tudo na vida chega ao fim e minhas atividades nas redes sociais chegaram também.O tempo que tive no orkut foi divertido, mas passou e ficou para trás. E eu tenho uma grande descrença que o orkut voltará igual.

Ganhar dinheiro com rede social quase sempre implica em focar o modelo de negócio na economia de atenção, não acredito que com o Orkut será diferente. Na minha opinião, se ele voltar, dará espaço pra vídeo, rolagem infinita e carregamento ilimitado de fotos. E ainda dará o biscoitinho chamado like.

É ver pra crer...

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Sobre o google ser uma Vila de Potemkin, os Anéis da Web (webRings) e os Youtubers processando informação

 

Quando o marechal Gregório Alexandrovich Potemkin quis impressionar sua amante Catarina, a Grande, levou-a para conhecer uma aldeia falsa na Crimeia em 1787. Tudo ali era fachada para impressionar sua amada com uma falsa cidade, toda bonitinha na frente, mas escondida atrás de um cenário.

É provável que essa história também seja falsa. Não existe evidência alguma de que esses eventos tenham de fato acontecido, mas a vila de fachada é usada hoje para descrever conceitos falsos como o buscador do google. 

Um youtuber fez uma pesquisa escrevendo a palavra "pizza" no buscador da google:

 

Mais de 1.000.000.000 de resultados. Legal né? Seria se não fosse completamente falso.

Fiz a mesma pesquisa e como no vídeo vamos rolando as páginas, empilhadas de 10 em 10. Faça um teste.

Cada página seguinte é mostrada de 10 em 10.

Se você for até o final, verá que não existe 1 bilhão de resultados, mas no máximo 322 ou menos:

Você deve estar pensando: Ok, você precisa repetir a pesquisa incluindo os resultados omitidos. 

Quando fazemos isso, no entanto:

As pessoas começaram a reparar nisso e nomear o google de Vila de Potemkin, pois a quantidade de resultados que o google diz que trazia eram fake. A internet é grande, sem dúvidas há muito mais páginas sobre pizzas e qualquer outro assunto que imaginemos, embora aquela internet primitiva por certo esteja morrendo.

A google, vendo que foi desmascarada em um vídeo viral, retirou a quantidade fake de resultados. Se você fizer uma pesquisa hoje, verá que não aparece mais 1.000.000.000 de resultados.

Eu sinto muita falta de ler blogs e ainda acompanho os raros casos que ainda fazem postagens. Mas o google não os mostra mais nas buscas. É notório que blogs, aqueles antigos e quase nada da antiga web é mostrada no google. Ele suprime resultados com critérios que nós não sabemos.

Você pode comprar relevância nas pesquisas, como faz o Brasil Paralelo ou sites como Canaltech. Portanto, é louvável se você deseja usar outros buscadores. Eu indico o Fuck Off Google. Você pode configurar de onde você quer buscar. No meu caso, eu peço para ele também trazer resultados do wiby.

É claro que você não vai abrir 300 links no mesmo dia, a menos que te sobre muito tempo e vontade. Mas aquele velho antigo conceito de "surfar na web" parece não fazer mais sentido nos dias de hoje e precisamos admitir que era uma coisa muito legal. Hoje em dia, conforme já publicado aqui, a informação nos chega de forma ultraprocessada, de um modo que a gente não consegue lidar com tanta coisa ao mesmo tempo.

Essa matéria da Folha de São Paulo é de 13/08/97. A jornalista fala de um modo até desesperado sobre os anéis da web ou webrings, que funcionava muito bem na internet primitiva, que conforme eu disse anteriormente, hoje está morrendo.

Quem navegou na web naquele tempo, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, provavelmente tem uma lembrança de encontrar um site e através dele encontrar um outro e outro ou até mesmo dentro de um mesmo site surfar em links que te levavam para dentro dele mesmo.

Com o tempo, você tinha salvo em seus favoritos os lugares que você gostava de visitar, acompanhar e todas as vezes que abria a internet visitava mais ou menos as mesmas coisas, mas claro, sempre tinha algo novo a ser descoberto.

Se hoje você fizer, digamos, uma pesquisa pelo YouTube, não é estranho que apareça sempre canais muito parecidos, falando sempre as mesmas coisas, com o mesmo tipo de linguajar, referenciando sempre os mesmos vídeos (normalmente aqueles que se tornaram virais).

Por exemplo, se Borboleta for um assunto de relevância no momento, todos os youtubers falarão da mesma coisa, da Borboleta, referenciando o vídeo ou onde nasceu o assunto Borboleta. É como se tudo já estivesse pronto e definido para você.

Mas nem sempre foi assim. Tudo era como cidades independentes onde escrevíamos o que bem entendíamos sem precisar pensar em algoritmos manipulando tudo. 

Hoje nós nos dobramos aos algoritmos. Os youtubers, que tenho a impressão de já terem sido mais livres no passado, seguem sempre um mesmo ritual. Fazem uma abertura, criam vinheta (que até hoje eu não sei pra que serve), choram seu like, seu dinheiro (mesmo que recebam 6 dígitos em dólares da plataforma), enchem o saco com recadinhos idiotas que ninguém quer saber, fazem uma publicidade da super camisetaider que custa caro porque precisam sustentar 6000 famílias de podcaster, fazem aquela chantagenzinha básica pedindo seu dinheiro pro canal continuar, compartilhamento, inscrição...

Só então entram no assunto do vídeo que de originalidade não tem nada. Você tem a impressão de que já viu outro fulaninho falar quase a mesma coisa que ele. Claro, ninguém precisa necessariamente ser original, mas muitas vezes a crítica já vem baseada na opinião que outra pessoa deu e assim funciona todo o fluxo. Muitas vezes eles começam com fórmulas como "eu não ia falar sobre isso" (na verdade ia sim) porque, cá pra nós, o YouTube induz você a postar o que está dando relevância. 

Além do mais, o YouTube desmonetiza certas palavras feias que todo adulto não pode ouvir não é mesmo? Tipo racismo, estupro, suicídio... 

Na antiga web, não é que a gente encontrasse informação de extrema qualidade. Nada disso. Eu sinceramente não entendo direito como é que parece que as coisas desapareceram de um dia para o outro. Mas até hoje, é importante entender que não precisamos dessas big techs pra criar nada, nem pra opinar. Criadores podem criar sem depender de big tech nenhuma. Só você e seu processo criativo.

Eu sei o que muitos pensam, que eu falo isso enquanto escrevo em um blog do google. Eu concordo, por isso estou dando um jeito de levar isso pra uma página pessoal. Sem dúvidas não precisamos também criar tudo em um local só, embora o blogger seja uma ótima ferramenta, que ainda costuma funcionar como era antes.

Tem o problema de visualização. As pessoas hoje querem viver de internet. Eu conheço pessoas que queriam publicar suas ideias, escrever... Mas não fazem isso porque acreditam que não se expressam muito bem. Eu sou uma dessas pessoas e é pra isso que me presto a escrever. Primeiro porque ainda acredito que blogs funcionam muito bem e depois que eu não preciso me submeter às regras do YouTube pra gerar informação.

Nós nos esquecemos do básico. Aquele básico que funciona, aqueles conceitos que sempre estiveram aí e foram se sofisticando como os anéis da web, mas que atendem muito bem o propósito da comunicação livre (e eu digo livre, sem precisar de uma big tech dizendo o que fazer e o que você precisa ver).

Antigamente, procurávamos livremente por informação pela internet, hoje tem gente que paga um clube de livro só pra receber recomendação de leitura do influencer. Francamente... Você acha mesmo que precisamos disso?

Eu sei que muitas pessoas vão preferir ouvir um conteúdo do que ler. Eu também escuto podcast e entro no YouTube. Mas tenha em mente que a internet é um horizonte muito, muito vasto e há muita informação por aí que vai além das fronteiras do que somente o que o google ou a Meta quer que você veja.

Eu tenho fé que nós não deixaremos a boa e velha internet morrer. Qualquer assunto pode ser escrito e compartilhado, criticado e falado sem nenhuma necessidade que uma big tech processe isso.