quinta-feira, 13 de novembro de 2025

16 livros para entender os perigos das redes sociais e os objetivos sinistros das big techs

Trago aqui um compilado de livros que li e que me inspiraram a estudar mais sobre o tema das big techs e abandonar as redes sociais. Eu comecei a enxergar problemas lá pelo ano de 2015, quando fiquei incapaz de ler um livro e culpo o facebook por isso. Hoje eu sei que o facebook anda declinando em popularidade, apesar de muitas pessoas ainda fazerem uso, principalmente aqueles ditos acima de 35 anos. Em 2018 estourou o escândalo da Cambridge Analítica e desde então o facebook entrou em descrédito. 

Por ter basicamente destruído minha saúde mental, essa plataforma foi a que passei mais tempo falando mal desde que a abandonei em 2017. De lá pra cá, esses livros funcionaram pra ter mais conhecimento de causa e analisar os motivos que me fazia ficar conectada dando meu tempo de vida a essas big techs e engajada em brigar, analisar, escrever textão e todas essas coisas que hoje considero vergonhoso pra mim.

Vou colocar uma breve descrição do que cada livro fala.

1) DOMINADO PELOS NÚMEROS - David Sumpter

Esse livro traz uma explicação técnica de como os algoritmos são usados pra entender mais sobre nossos gostos e moldar o que vamos ver nas redes sociais. Ele ainda faz uma análise acurada do porquê, mesmo você sendo um metaleiro que aprecia bandas como Obituary, Cannibal Corpse, Sepultura ou Deicide, aparece bichinhos fofinhos e vídeos de pagode dos anos 90.

A questão é bem curiosa, já que o extremismo é coisa humana. Ou seja, essa coisa de sim ou não, 8/80, vai ou racha, preto ou branco não existe nos algoritmos. A máquina entende que, com alguma probabilidade de erro ou acerto, você pode sim ouvir Cannibal Corpse na sua playlist e ser fã de ursinhos carinhosos no sigilo. Nada nos impede disso, o extremismo é puramente ideológico, não refletindo verdadeiramente na complexidade humana.

Essa é uma dica interessante de leitura pra quem quer entender como o sistema dessas redes são sofisticados pra te deixar viciado e te fazer acreditar que o problema é você, não eles.

 

2)  DEZ ARGUMENTOS PARA VOCÊ DELETAR AGORA SUAS REDES SOCIAIS - Jaron Lanier

Eu já postei nesse blog um capítulo desse livro, do qual Lanier se dedica a falar sobre política. Você pode ler aqui, caso tenha interesse. Esse livro traz 10 argumentos pra que você simplesmente delete suas redes sociais. Não existe considerar, nem reduzir o tempo, o autor sugere que você DELETE.

Os argumentos vão desde a perda de liberdade, livre arbítrio e privacidade, passando por assuntos ligados à saúde mental, explicando os motivos da gente ficar mais tristes quando presentes nas redes sociais, até questões extremamente graves como genocídios, estupros e golpes nas democracias causados pelas redes sociais.

Jaron Lanier diz que parou de dar consultoria para filmes de ficção científica por acreditar que esses caras brancos liberais do Vale do Silício usam essas ideias inescrupulosamente pra criar mais problemas ligados à tecnologia. 

Minha dica é começar por esse livro. Ele te dá um imenso norte pra continuar as pesquisas sobre essas nefastas redes sociais. 
 

 

 

 3) OS ENGENHEIROS DO CAOS - Giuliano da Empoli

 

Esse livro nos conta a história de Steve Bannon e da Cambridge Analytica e como eles se utilizaram dos algoritmos e os padrões de dominação das redes pra glorificar figuras como Trump, Salvini e Bolsonaro que antes eram desconhecidos ou marginais na vida política e se tornaram presidentes. O autor nos conta como é possível partidos como o Cinco Estrelas conseguirem eleger um número considerável de pessoas sem preparo algum pra ocupar esses cargos. Adianto que é um livro bem assustador e creio que isso pode convencer muita gente a abandonar as redes sociais.

4)  BIG TECH: A ASCENSÃO DOS DADOS E A MORTE DA POLÍTICA - Evgeny Morozov

 

Costumo dizer que esse livro é obrigatório pra quem deseja ter mais profundidade nos temas a respeito das implicações da tecnologia na nossa vida prática. Ou seja, a procura pela solução de problemas usando tecnologia, ou como o autor nomeia "solucionismo digital". Significa que as big techs costumam tentar encontrar solução digital para tudo, problemas urbanos, de trânsito, de moradia, transporte público, etc e muitas vezes a solução daquilo não é digital, mas melhorar a política pública e de acesso.

O autor também argumenta como, ao invés de ajudar, esses aplicativos de solucionismo digital criam muito mais problemas, levam empresas à falência e geram dependência do uso de suas tecnologias para conseguir monopólio de produtos e mão de obra que não são seus. O iFood tá aí pra nos mostrar isso.

Pense bem. As redes sociais criaram um problema imenso na nossa vida e na nossa saúde mental. Assim sendo, por que a solução pra isso não seria excluir o perfil, desligar o celular e viver nossas vidas no modo analógico? O que as pessoas acreditam que pode ser a solução? Criar uma outra rede social "mais humana"?

Meus amigos, não... Solucionismo digital, em grande parte das vezes é falso, cria problemas e atenta contra a democracia. Recomendo fortemente esse livro. Ele é bem embasado, bem escrito e mostra como digitalizar o mundo pode ser extremamente perigoso.

 5) ALGORITMOS DE DESTRUIÇÃO EM MASSA - Cathy O'Neil

Esse é um livro bem interessante onde a autora demonstra que os aplicativos digitais que vão dominando nossa vida quando fazemos compra, quando lemos, quando saímos e viajamos, quando compramos remédios, comida ou consumimos produtos online, seja o que for, estão sempre presentes e se refinando para atender, não às nossas necessidades, mas às demandas de lucro das big techs. Ou seja, se eles não quiserem vender pra pessoas negras, os algoritmos aprendem a ser preconceituosos punindo as pessoas mais necessitadas e excluindo-as ainda mais do sistema. É uma leitura lenta e um pouco chata no começo, mas vale a pena.

6) FOCO ROUBADO: OS LADRÕES DA ATENÇÃO DA VIDA MODERNA - Johann Hari

 

Esse autor foi radical em submeter a si mesmo a viver uns meses num local isolado sem internet e com um celular com um botão grande pra emergência. Ele tomou essa decisão após levar o sobrinho pra conhecer o museu do Elvis e notar que ninguém prestava muita atenção ao redor, só tiravam fotos pra alimentar as redes sociais ou se distraíam no celular, inclusive seu sobrinho, que quando pequeno, sonhava em visitar esse museu.

Esse livro explora nossa vida de antes, quando conseguíamos prestar atenção aos filmes, a palestras e se concentrar na leitura. Ele mostra como os donos dessas big techs fizeram pra controlar nossa atenção com coisas até simples tipo o coraçãozinho e likes como recompensa e gamificação do uso dessas plataformas.

Indico fortemente pra quem quer recuperar a vontade de ler, trabalhar e estudar sem distrações.
 

 7) INFOCRACIA: DIGITALIZAÇÃO E A CRISE DA DEMOCRACIA - Byung Chul-Han

Byung-Chul Han é um grande filósofo do nosso tempo e nesse livro ele vai nos mostrar como as democracias estão indo pro beleléu e provando que parte disso é culpa nossa.

Nós nos deixamos influenciar por tão pouco, como gados, só porque algo é atraente e brilhante. Damos nossa saúde mental por tão pouca coisa em troca, em um sistema digital que nos humilha e faz coisas moralmente reprováveis, mas não possuímos muito senso de moral pra perceber isso e arruinamos nossas vidas, fracassamos e cada dia nossa energia se esvai por dar poder a essas redes. 

Byung-Chul Han explica os motivos de sermos tão coniventes com isso - mesmo você julgando que não - e nos convida também a entender como as redes potencializam coisas já conhecidas como terríveis mas que são recicladas. Por exemplo, ele diz que não adianta fazer checagem de fatos porque a verdade já foi proclamada e dificilmente as pessoas mudarão uma ideia que já está assimilada como verdadeira em suas cabeças. Pra exemplificar isso, ele usa as propagandas nazistas que induziam o povo acreditar que os judeus estavam matando e causando problemas quando na verdade foram os nazistas que organizaram todo o genocídio.

Eu recomendo fortemente a leitura desse livro. Isso fecha com o que eu sempre costumo dizer nesse blog - e eu vou preparar um post só pra isso -, que toda a checagem de fato - mesmo que venha do seu influencer estudioso com doutorado que só está tentando te alertar - vai contribuir como propaganda em favor de quem está viralizando a informação errada. Uma vez que as pessoas aceitaram mentiras como verdades, elas não vão ouvir checagem de fato.

8) A ERA DO CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA - Shoshana Zuboff

Pra você que gosta de temas mais ligados à economia e como funciona as big techs nesse cenário todo, esse livro é a coisa mais interessante e assustadora que há. Ele mostra o poder que essas big techs têm sobre a economia mundial e como eles acumulam riquezas astronômicas minerando nossos dados sem nosso consentimento.

Não há mais privacidade, você é exposto a todo momento, leiloado, vendido e julgado mesmo sem concordar e nem saber disso. A falta de privacidade e a vigilância constante são transformadas em lucros. Esse livro vale seu tempo.


 

 

 

 

9) POLÍTICAS DO ENCANTO - Paolo Demuru

 

O livro explora como as redes sociais são um terreno fértil para o pensamento extremista, o levante do fascismo e um verdadeiro lamaçal para a esquerda. É um livro corajoso e forte, eu particularmente, que detesto redes sociais e seus criadores, fiquei muito feliz em ler isso. Foi como lavar a alma.

Tem um canal que eu sigo no youtube chamado Frederico Krepe. Um dia ele fez um vídeo muito bem articulado explicando a respeito da internet, das redes sociais e como é possível usar essa ferramenta pra mobilizar os trabalhadores. Ok, eu concordo. A internet faz parte da comunicação, não podemos negar.
Além do que, ele diz que não existe essa dicotomia entre vida real e internet, que a vida real é a internet. Se tiver interesse, clique aqui pra ver o vídeo.

A internet é uma espécie de continuidade híbrida da nossa vída, se assim pudermos falar. Como qualquer coisa na vida, se usar demais, pode ser prejudicial para a saúde do corpo e saúde mental. As redes sociais são perigosas, provocam vício e deixa você infeliz. E eu não tô nem tratando de exceção aqui. Nem mesmo gente que tem motivo pra ficar feliz com rede social, aqueles seletos grupos que faturam muito dinheiro com gente ingênua estão transbordando de felicidade, quem dirá pessoas pobres como eu e a maioria. 

Krepe não explica o conceito de guerra híbrida. Só diz de forma errada que ela serve pra explicar "qualquer coisa". Nada menos que falácia. As redes sociais, principalmente se estamos falando de x/twitter são sim instrumentos de guerra híbrida, queira o Krepe entender isso ou não. Guerra híbrida é uma forma de chamar técnicas de ataque militar passadas pra tecnologia, como manipulação psicológica, cyberataques, desinformação e por aí vai. Não se usa canhão na guerra híbrida, usa meme. É ridículo né? Mas infelizmente foi o que essas redes condicionaram as pessoas a fazerem.

Como diz Byung-Chul Han, as redes sociais amplificam notícias falsas como se fossem verdades e as pessoas aceitam isso. Chutam desinformação sobre vacinas na nossa cara e não adianta nada fazer checagem de fato ou querer dar explicação lúcida, o estrago foi feito, será difícil de voltar atrás a menos que essas merdas sejam regulamentadas - e ainda sim, tenho minhas dúvidas se vai conter a desinformação.

Internet não se resume a rede social. Rede social é aquela coisa comandada por bilionários sem o menor escrúpulo que necessitam de gente de esquerda logada pra direita prosperar. A esquerda pode espernear achando que estão agregando algo nas redes, mas elas estão, em parte trabalhando pra gerar matéria prima pra direita conspirar. Não estou alegando, com isso, que a esquerda deva se calar e cessar a comunicação. Seria sim interessante se o x/twitter perdesse sua relevância e fosse enfraquecido. Mas eu não espero por isso, as pessoas acreditam mesmo em suas relevâncias nessas merdas digitais.

A internet também faz parte da nossa vida, mas rede social não resume a internet e não é nem de longe errado questionar o fato mais que concreto que esses bilionários, sem o menor escrúpulo usam essas ferramentas pra lucrarem com desinformação e polarização política. Assim sendo, se você tem algum juízo na cabeça, se envolva com política, mas delete sua rede social sim. Toda luta social é válida e você não está lutando contra um fantasma.


10) UMA VERDADE INCÔMODA - Sheera Frenkel e Cecilia Kang

Esse livro conta a jornada de Mark Zuckerberg, como ele se tornou tão poderoso, como o facebook ficou tão gigantesco e também demonstra como isso causou retrocesso na informação, na democracia e na nossa vida pessoa. 

As autoras também explicam como a meta fez um imenso esforço de negar as acusações que pesavam sobre ela de desinformação, mentiras, manipulações, discursos de ódio, genocídios e manipulação política. A meta alega que não sabia que estava causando esses problemas, mas não é verdade, pois falta de avisos e denúncias não faltaram. Até mesmo um funcionário da parte de segurança da meta tentou avisar ao Zuckerberg o que estava acontecendo e ninguém fez nada.

Elas demonstram até a influência russa nas eleições estadunidenses e como Mark Zuckerberg esteve o tempo todo 100% consciente disso. É uma leitura revoltante, mas que diz muito sobre as intenções desse tipo de gente como Zuckerberg. 


Esse livro sem dúvidas te faz respirar com alívio quando você decidir deletar sua rede social sabendo que faz a coisa certa.

 

11) A FÁBRICA DE CRETINOS DIGITAIS - Michel Desmurget

 

Indicado principalmente pra os pais ou responsáveis por crianças e adolescentes. Aqui o autor demonstra que é absurdamente falsa a ideia de que é necessário o uso de telas para a educação, e que toda essa situação degradante de permitir que crianças tenham celulares e acesso à internet está criando problemas de ansiedade, atenção e foco e ainda criando desigualdade educacional, já que essas mesmas crianças irão crescer e concorrer com adultos que foram criados com educação sem tela e esses terão completa vantagem intelectual.

Esse livro demonstra o que sabemos bem: que as redes sociais e o celular são perigosos, mas pra crianças e adolescentes que ainda estão com o cérebro em formação, isso pode causar danos até irreversíveis. Recomendo fortemente a leitura. 

 


12) A GERAÇÃO ANSIOSA - Jonathan Haidt

 

Esse livro é uma leitura obrigatória pra todos. Quando saiu a polêmica de "adultização" levantado pelo youtuber Felca eu lembrei imediatamente desse livro porque ele mostra de uma forma bem direta como, por exemplo, a meta tem os ingredientes específicos para atrair adolescentes e crianças pra suas plataformas.

Ele expõe até documentos sobre como a meta tem a estratégia correta pra empurrar conteúdos específicos pra esse público juvenil e torná-los viciados, mesmo sem o consentimento dos pais. É bem chocante, mas lembre-se, quem comanda essas plataformas são bilionazis que só querem lucro, tão cagando e andando pra você e sua família.


 

 

13) LIMITE DE CARACTERES - Kate Conger e Ryan Mac

 

Esse excelente livro documenta toda a história de aquisição do Twitter, que não foi nem um pouco limpa e amigável e que conseguiu destruir essa rede social. Esse sujeito é tão mimadinho, egocêntrico e abjeto, que o twitter se tornou um verdadeiro caos depois que ele o adquiriu só pra satisfazer suas vontades infames. Difícil acreditar quem diabos consegue admirar um sujeito desse depois de ler esse livro. Se antes não dava pra imaginar, depois do livro, menos ainda.

 

14) IRRESISTÍVEL - Adam Alter

 

O livro mostra como funciona a dinâmica do vício de forma brilhante, explicando como as redes sociais, jogos, tecnologias de vestir (como smartwatches) e os infames likes são criados propositalmente pra reter sua atenção. Funcionam como um caça-níquel, com cores vibrantes e barulho delicioso pra te manter sempre sentindo prazer.

O livro explora o assunto trazendo histórias de até partir um pouco o coração, como essa estudante que relata que o jogo das kardashians arruinou sua vida ou do rapaz que engordou 30kg jogando WoW e deixou até de tomar banho, passando 20 horas por dia jogando.

Adam Alter não fica falando sobre dopamina como se ela explicasse tudo (na verdade ela sozinha não explica nada), ele vai muito além disso e demonstra que é uma batalha até perdida lutar contra essas coisas. Esses covardes que fabricam essas merdas sabem exatamente como pegar a gente pelo prazer de continuar mantendo engajado e dando atenção para os joguinhos e atividades online que eles fabricam. É um livro bem interessante e que certamente você voltará pra ler de novo. 

15) LIBERDADE E RESISTÊNCIA NA ECONOMIA DA ATENÇÃO - James Williams


Esse autor veio de dentro dessa bagunça das big techs e nos mostra como a ideologia por trás da criação dessas redes sociais e demais tecnologias são inescrupulosas, covardes e como eles também desenvolvem um monte de bobagem sem nenhum cabimento pra extrair nossa atenção em nome do lucro e de outros motivos bem obscuros e sinistros.

Além do mais, o livro é bem aconchegante, você lê e se identifica imediatamente, como se ele estivesse resumindo seu sentimento diante de toda essa celeuma. 

O livro toca num ponto interessante. O autor sugere para os estudiosos que não publiquem os prejuízos que essas coisas trazem pro cérebro apenas para as crianças e adolescentes, mas que exponham como isso afeta brutalmente adultos e idosos.

Como ele diz: "Se nossas tecnologias não estiverem do nosso lado, não devem ter lugar em nossas vidas"

 

16 ) A MÁQUINA DO CAOS - Max Fisher

Esse é o livro que se eu pudesse dar só uma indicação, seria ele. Creio que é o mais completo sobre o mecanismo de engrenagem social criado por essas redes que acabou refletindo no tecido democrático do mundo inteiro.

Se você crê que tem controle sobre a rede que você usa, esse livro vai derrubar essa ideia e demonstrar como coisas até banais e idiotas como briguinha pra saber qual comida ou brinquedo é melhor, pode criar um verdadeiro caos na vida das pessoas. Ou até como um assunto bobo de mal entendido pode criar um caos e prejudicar trabalhadores.

Um exemplo disso é o caso de uma estudante do Smith College que acusou funcionários de impedi-la de comer no refeitório, alegando que ela "comia como uma negra". Isso causou um barulho nas redes sociais e gerou um escândalo enorme. Teve funcionário que saiu de licença, outro se transferiu e um deles pediu demissão.

A estudante em questão estava comendo em um espaço anexado ao refeitório que era pra crianças, e o zelador lhe pediu educadamente pra comer em outro lugar. E foi só isso. Ele só avisou ela, não a ofendeu, nem disse essas palavras grosseiras. O que veio dela, nas palavras do autor, foi uma hipérbole juvenil. 

A aluna que era vítima das redes e de racismo, passou a ser linchada moralmente e atacada. De heroína à vilã. Como diz o autor:

"Poucos pensaram em culpar as plataformas sociais que haviam dado a uma adolescente o poder de acabar com o ganha-pão de trabalhadores de baixa renda, incentivaram-na e a milhares de espectadores a fazer o que fizeram e garantiram que todos passariam por sua impressão errada, transformada em indignação, como algo mais verdadeiro que a verdade." 

Esse livro traz coisas ainda mais terríveis e tenebrosas como o genocídio do povo ruainga em Mianmar, e que sabidamente a ONU culpa o facebook como causador dessa limpeza étnica. Os refugiados - que hoje protagonizaram o maior êxodo do mundo -, processam o facebook por fomentar o discurso de ódio contra eles.

No dia que você se perguntar o que deu na cabeça do povo alemão pra apoiar os nazistas e serem completamente omissos aos judeus sendo mortos e massacrados em campos de concentração, pergunte-se o que dá na nossa cabeça de continuar usando uma rede da qual nós damos força e que causa inúmeros estragos no mundo e na nossa vida. Eu nem vejo problema em fazer essa colocação. Até porque eu não estou chamando de nazista quem usa rede social, não é isso. É simplesmente tapar os olhos e não querer enxergar o que está acontecendo.

Genocídios, estupros, caos, pânico, volta de doenças controladas por causa de movimento anti-vacina, desinformação, destruição da democracia, levante do fascismo, polarização, destruição da saúde mental, crise sanitária com propagandas de apostas e tolices ilegais, fake news sobre diversos tópicos, inclusive mentiras sobre o aquecimento global que dá moral para empresas fazerem o que quiser e sua vida virar um inferno.

Não ignore essas coisas. E se por ventura você ainda estiver pensando que fez amigos e reencontrou o cara que jogava bola contigo na escola quando eram crianças, lembre-se que a quantidade de coisas ruins que essas redes trazem não valem o seu tempo e não tem nenhum custo-benefício.

 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Esqueça a dopamina

 

Quando encontro algo sobre vício em redes sociais, abro pra ler confiando que haverá boas informações. E às vezes tem mesmo. Tem muita gente produzindo bons conteúdos e bastante informativos. Porém, esse do vício e crítica às redes sociais é bem esquisito. Isso porque, os queridos que escrevem essas coisas ou fazem vídeo tentando explicar o que nos torna viciados nas redes sociais, sempre investem no argumento da dopamina, algo que todo mundo tá careca de saber. Funciona assim, você encontra um assunto legal sobre vício em rede social num canal qualquer e ele gasta 5 minutos te explicando que tudo isso só ocorre graças à dopamina e blá blá blá. Esse cara copiou de outro, e de outro e de outro. Aqui quero fazer diferente. Quero falar de vício em redes sociais do ponto de vista de uma pessoa que já foi viciada nessas merdas, mas sem usar nada de científico. Você já deve ter ouvido em algum canal por aí algo sobre dopamina. Não preciso repetir aqui porque acredito que é algo que filosoficamente precisamos explorar e pensar sobre sem ficar procurando resposta em bioquímica. 

Todos estão carecas de ouvir explicações de bioquímica. Se há um vício, tem algo desregulado ali. A grande questão é como podemos controlar e parar com o vício. Acredito que a grande maioria tentou não perder horas da vida nas redes mas não conseguiu. Eu fui uma delas e não vendo muita saída, deletei as redes e nunca mais voltei. Foi o único jeito pra mim, até porque a ideia não é só reduzir, mas sim parar completamente de dar força a essas plataformas. Elas são perigosas e inescrupulosas, já se sabe que causaram genocídios, golpes de estado, já ajudaram a eleger políticos de extrema direita e são responsáveis também por países retrocederem suas leis baseado apenas em opiniões vazias.

Você não está na rede social pra socializar e sim pra ser leiloado, vendido, usado e minerado. Você pode até ouvir seu influencer com doutorado esclarecer sobre alguma desinformação que viralizou, mas lembre-se que antes de mais nada, foram as redes que permitiram que aquela pessoa que antes ficaria na marginalidade social, simplesmente fosse ouvida por milhões. É como tentar resolver um problema que você não pode e que um motor infinitamente maior e mais poderoso está se esforçando pra tornar conteúdos execráveis em tendências opinativas. E claro, seu influencer com doutorado, por mais nobre que seja a intenção, fará exatamente o que o algoritmo espera dele, solucionar um problema que a própria plataforma criou.

As plataformas sabem que brigas, conteúdo duvidoso, gente respondendo fulano e beltrano, viralismo estranho e todo tipo de futilidade gera muito engajamento. Você fica viciado, quer saber mais e mais sobre aquilo e eles te dão o que te gera muito prazer. E será mesmo que só a dopamina explica isso? Será mesmo que esses caras que aprenderam a te adestrar fazem isso apenas contando com a dopamina? Você acha que esses caras não conhecem a questão da criação de hábitos e validação social? Acham que eles ignoram que isso te dá uma espécie de recompensa social? Acha que eles, com muita má fé, não se aproveitam de sua ansiedade, sua solidão, seu tédio e seu estresse pra te empurrar um conteúdo que te consola? Acha que eles não manjam nada sobre engenharia comportamental como a rolagem infinita, vídeos com autoplay, notificações e algoritmos covardes que te mantém preso empurrando todo tipo de merda inútil? E suas emoções negativas? E a questão humana do habito automático? Você acha mesmo que esses caras não dominaram tudo isso pra gamificar as redes te oferecendo biscoitinho e depois vão empurrar tudo pra conta da dopamina?

Quando você quer parar de usar rede social e tem esse choque de realidade, é também a dopamina que está controlando essa retomada de bom senso. Quando você recobra o senso de moral, a dopamina é um dos neurotransmissores por trás disso, mas eu não quero entrar em detalhes. Não tomamos nossas decisões baseada em bioquímica. Não que não seja importante saber disso, mas acreditar que um tal de jejum de dopamina (seja lá o que for isso), possa ser solução para seus problemas, é uma coisa no mínimo de se questionar.

Queria saber por que quando se fala em vício em álcool ou em cigarros, ninguém fica te empurrando essa merda de dopamina. Ninguém fica abrindo livro de bioquímica e nem citando nome de neurotransmissor. Simplesmente as pessoas levantam problemas sociais que provavelmente te fizeram entrar nesse vício. No caso do álcool é muito comum ouvir relatos de pessoas que falam que se envolveram culturalmente em um hábito aceito socialmente e por algum motivo, quando algum episódio da vida ficou obscuro demais, ela se tornou viciada. Ninguém fica falando de grelina, cobalamina, dopamina, gaba, glutamato, serotonina e por aí vai... Saber disso, interfere no que mesmo? Você não pode controlar essas coisas, assim como não tem controle de quando tem vontade de cagar e mijar.

Uma analogia que faço é com aquelas pessoas que, novamente, como se ninguém tivesse careca de saber disso, insistem no ponto de que nosso corpo não quer perder peso porque evoluímos pra guardar energia. E aí começam a falar na longínqua vida do ser humano nas savanas, tempo esse que era difícil conseguir comida e abrigo. A solução, claro, é sempre medicamentosa. Você não vê essas pessoas falando sobre questões de antropologia e cultura, sobre o sistema vigente que vivemos e nem de políticas públicas. Por exemplo, o índice de obesidade no Japão é baixo. Será que isso ocorre porque há algum plasma sagrado no sangue dos japoneses que os impede de engordar ou porque a cultura alimentar pode explicar isso muito bem? Será mesmo que a gente vai sempre ficar à mercê dessas explicações que, ok, estão corretas, mas não são explicações finais sobre o comportamento humano?
Será que taxar essas empresas que fazem ultraprocessados e dificultar o acesso a essas merdas não resolveria uma parte considerável do problema? Incentivar esportes e melhorar o acesso urbano para as pessoas se deslocarem a pé, de bicicleta e outros veículos simples como skate e patins não seria também desejável? Criar mais parques, acesso ao lazer e educação de qualidade não seria uma ideia melhor do que gastar um rio de dinheiro tentando solucionar um problema que em parte essas big foods criaram?

Eu sei que o mundo ideal é bem diferente de pessoas que estão precisando. Eu não sou contra medicamentos, afinal, se o problema foi criado é preciso resolver. Mas é muito difícil de conter o avanço de qualquer coisa quando o problema não é resolvido na fonte. E não, eu me recuso a me conformar que não tem nada a ser feito.

Comprar essa ideia de dopamina é querer tapar um buraco de algo mais sombrio. Precisamos sim fazer alguma coisa, caro leitor. Esqueça essa história de dopamina. Pense nos ganhos ou perdas que você teve de acumular like e expor sua vida pra todo mundo. Pense que talvez, aquele desentendimento que você teve com seus amigos e familiares não teria existido se você não tivesse rede social.

Uns anos, quando ainda tinha orkut, um amigo do meu ex veio me xingar. Usou um scrap pra fazer isso e ainda do perfil da funcionária dele que era minha amiga. É claro que ele está errado e desde esse dia, nunca mais falei com ele, nem meu ex. Mas se não tivesse rede social pra me xingar, o que ele faria? Vomitaria os injustos insultos dele na minha cara? Difícil saber. Isso porque estou falando de uma rede social que não tinha um algoritmo ditando seu comportamento, as pessoas faziam as coisas conforme lhes davam na telha. Imagine nos dias de hoje, eu penso que seria bem pior. Talvez ele faria um vídeo meu me xingando publicamente...

Todos nós queremos validação social, mas as redes levaram isso pra outro nível. Os comportamentos comuns, eles potencializam pra você acreditar que sua vida está ali dentro conectado. Eu acredito que num futuro próximo, não saberemos explicar direito como permitíamos que uma empresa fizesse tal coisa com a gente, sondasse nossa vida, tirasse a privacidade, nos deixasse viciados e destruíssem nossa saúde mental. Esse estudo aqui diz que gastaremos 25 anos de vida nas telas dos celulares. É no mínimo de se pensar.

Pra quem não vê problema nenhum em estar lá conectado, francamente, eu não me importo. Vá na fé, siga com o que você acredita e se joga. Mas se você é desses que vê muitos problemas, sente que algo vai errado e repensa sobre seus hábitos, considere deletar sua rede social. Você vai ver que não fará diferença nenhuma na sua vida, nem na de ninguém, o máximo que você recobrará é sua saúde mental. 






segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Cemitério dos Blogs e o lance dos Vila Boys (Nostalgia)


 

Houve um tempo que você não via muitos vídeos por aí e também não havia redes sociais. A gente navegava na internet e o que tinha pra ler era blogs e home pages pessoais, grande parte feitas no antigo geocities. Os servidores tinham seus blogs, como a uol com o zip.net e a ig com o blig. Nenhum deles existe mais, ficamos apenas na saudade dessa era dourada dos blogs. Durou bastante e sei que blogs ainda existem, mas não chega perto do que foram antes e eu nem tenho palavras pra explicar como era a sensação de quando chegava a hora da internet e a gente saía surfando na web noite adentro.

Quero ressaltar ainda, que naquele tempo, a gente não tinha corretor ortográfico nas páginas, quando você tinha dúvida sobre algo, era preciso abrir o word e escrever a palavra lá pra ser corrigida. Mas muitas pessoas não se davam ao trabalho de fazer isso e o resultado era centenas de blogs escritos com um português totalmente errado. E se até hoje as pessoas se importam com isso, deixo pra que você pense como era 500 vezes pior nos anos 2000, tempo esse que ninguém se importava em fazer comentário machista e homofóbico.

Nessa época, ali entre 2002 e 2009, era muito simples encontrar blogs. Na verdade, arrisco dizer que 80% do que vinha no buscador eram blogs. Talvez os blogs fossem uma rede social mais livre e independente, que não usavam algoritmos pra te persuadir, mas o caso é que nós visitávamos blogs interessantes dos quais eram indicados outros blogs e assim fazíamos a cadeia de lugares comuns pra dar uma passeada. No meu caso, eu pesquisava um assunto, encontrava blogs e voltava sempre pra ler. Esses blogs indicavam outros parecidos e eu também seguia. E dentre tantos blogs que visitávamos, havia aqueles estranhos, cheios de gifs que tornavam a leitura de tudo impossível, erros grotescos de português e assuntos muito estranhos. Fora quando os donos desses blogs colocavam hello kitty em tudo, algo que me foge um pouco à compreensão pq aquilo fazia tanto sucesso. 

Vamos a alguns exemplos do que estou falando:

Kantinho da Bombom

Kompulsividade

kriptys

kda1comseusproblemas

cifinha_bom_de_ideia

tentandoemagrecer

 

nadiakitty

Nenhum desses blogs estão mais disponíveis, infelizmente. Isso foi o que restou deles e eu resgatei no wayback machine.

Diante de tanta esquisitice escrita errada, com informações que nem sempre podiam ser verificadas e com a estética bem típica dos anos 2000 (mas bastante duvidosa até pra época), muitos desses blogs eram expostos. Hoje não vemos mais coisas do tipo "10 perfis do facebook que são um saco" ou "10 tipos de perfis que você encontra no facebook" ou a famosa "pérolas do orkut". Isso porque a estética das páginas foram simplificadas e existe corretor ortográfico. Além do que, checar a verdade se tornou algo até importante, embora a gente saiba que grande parte das pessoas ainda caem em golpes e charlatanices. Mas aí é outra história. Ao menos o maluco que escrevia que Hitler era da magia negra de esquerda não tinha atenção nem respaldo. Hoje em dia esses caras perceberam que as próprias pessoas intelectuais trabalharão de graça pra eles achando que estão informando sobre a verdade, mas nada mais fazem que compartilhar e viralizar conteúdo de maluco querendo faturar em cima da ingenuidade alheia. Pablo Marçal tá aí pra confirmar isso...

A exposição de blogs fazia bastante sucesso, assim como fez sucesso as listinhas com tipos de coisas que a gente encontra aqui e ali. Já foram populares e hoje caíram em desuso. E nesse contexto, surgiu o blog "Cemitério dos Blogs", cujo o seu criador, o Coveiro Zé, "enterrava" blogs como esses que trouxe de exemplo, Kantinho da Bombom, Malookinha, Linitchas, Crazy Panda e por aí vai. Se você quiser olhar o cemitério dos blogs, clique aqui. Ele não existe mais, só é possível acessar através do wayback machine.

Eu não sei quem foi o Coveiro zé, mas seu blog fez um imenso sucesso na época. Quando o volume das coisas que tínhamos pra ler na internet, grande parte se resumia a blogs, era muito interessante ver gente zoando com adolescentes carentes que criavam conteúdos com poesias desajeitadas, cópia e cola de bobagens na internet, recorte de suas vidas com coisas banais (como tirar xerox na faculdade, ver o sol se pôr, dormir no colégio) e por aí vai.

Eu era jovem também. Nessa época eu ia pra faculdade e gostava também de visitar o blog que meus colegas escreviam, em grande parte porque eles escreviam coisas que aconteciam na sala de aula. Se eu soubesse que a internet se tornaria o que se tornou, teria aproveitado mais essa época. Não sou uma nostálgica que acredita que tudo deve ficar no lugar, não é isso. É só que antigamente não havia um algoritmo mandando no que as pessoas faziam, elas só faziam. Postavam o que dava em suas cabeças sem se preocupar nem mesmo se alguém "enterraria" seus blogs.

O cemitério dos blogs tinha um grande volume de visitas. Em 4 meses, conseguiu mais de 50 mil visitas. Parece pouco para os padrões de hoje, mas naquela época isso era impressionante.

 


Na época quem encontrou esse blog foi meu irmão. A gente entrava todo santo dia, esperando ver o próximo blog que seria "enterrado". Até que um dia apareceu os Vila Boys.

Claro que na época a gente achou isso muito cômico. Tratava-se de 6 caras jovens que andavam enturmados em uma vila da zona sul do Rio de Janeiro como se fossem uma boyband, mas eram só garotões que se achavam o máximo. Tanto que tiveram auto estima suficiente pra fazer uma página.

Os caras colocavam até as marcas que vestiam
 

Provavelmente eram 6 playboys que talvez por terem um pouco de condições financeira melhor, ficaram famosos no bairro que moravam. Acredito que boa parte das pessoas presenciaram coisas assim na juventude. Não nesse nível, de nomear o grupinho como se fosse boyband, mas todo mundo deve ter visto um grupo mais popular de pessoas que andavam por aí e eram conhecidas.

Os caras postavam até o point que iam:

 E pelo visto colavam bastante nessa antiga boate El Turf

 

Vila Boys tinham seus singelos perfis e gostavam todos de "curtir a night":

 


Basicamente consegui desenterrar assunto de 20 anos atrás. Vila Boys hoje devem ser homens quarentões, talvez casados, com a vida resolvida, não dá pra saber. A única forma de ver a antiga página ou o que sobrou dela é aqui, através do wayback machine. O passado é passado, o que tá feito, tá feito. Só podemos lembrar que foi, antes de tudo um tempo muito bom pra navegar na internet.

Esse Vila Boys, por alguma razão nunca mais me saiu da cabeça. Na época achei isso muito engraçado e fiquei anos tentando encontrar a página dos moços novamente sem sucesso, até lembrar do nome do blog Cemitério dos Blogs. Essa era uma época em que se usava internet, mas também se saía pra curtir a night.

Era uma época que, devido não existir um algoritmo pra ditar o que fazer e o que não fazer, as pessoas arriscavam - e muito - simplesmente publicar o que lhes dava na cabeça. Nessa época, o pé no extremismo pra besteira era forte. Vejam o caso do Evandrin, um perfil de um rapaz do Orkut que sofreu um imenso bullying. Ele tinha um visual de emo infantilizado. Tirava foto com chupeta na boca fazendo biquinho, pintava o cabelo de loiro e usava com franjinha e também uma lente de contato azul.

Evandrin
 

Esse sujeito foi um caso que nunca esqueci, de como o bullying e a exposição dele em blogs tornou ele muito famoso. O rapazinho até excluiu seu orkut, mas hoje em dia, ele ganharia milhares de seguidores e faria do bullying um marketing.

Os vilaboys não sofreram esse bullying de grande proporção como o Evandrin, mas muita gente riu deles. E os moços não deletaram sua página. Na verdade, creio que estavam cagando e andando para o que a internet achava ou deixava de achar deles. Os vilaboys representam o espírito da época: a ousadia de criar e se expor na internet sem medo de julgamento, mesmo numa época tão difícil.

Vejo que hoje timidamente, começa a espalhar conteúdos criticando redes sociais e até fazendo um esforço pra que as cidades digitais voltem a imperar. Não é vontade de que tudo seja como antes, é apenas para que a web não se perca nas mãos dessas big techs.

Não espero que alguém dos Vilaboys achem esse blog, ou o coveiro zé, do qual nunca mais ouvi falar nesses longos anos de internet. Eu não sei se ele tentou se reciclar e produzir outros tipos de conteúdos. Mas quero deixar aqui meus agradecimentos, por ter feito aquela época tão feliz. 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Seu tempo de tela e suas experiências de vida


 

Passeando no YouTube eu achei um canal que resume filmes. Fiquei curiosa e fui dar uma bisbilhotada, os títulos são bem chamativos e é narrado com as imagens dos filmes. Assim, conheci esse estilo de vídeo em que é narrado todo o filme de uma forma mais resumida e rápida. Isso te desobriga a ir dar um play lá no seu streamer porque o youtuber já fez o trabalho de passar tudo bem mastigadinho para você.

Há quem comente que é melhor que netflix, acredito que isso se deve à tiktokização dos conteúdos: sempre rápidos e resumidos pra você consumir o máximo possível e doar todo o tempo de sua vida às telas. Ler fica difícil, assistir vídeos em ritmo lento, uma coisa por vez, com paciência e sem encostar no celular também fica cada dia mais complicado.

Isso nos tira a paciência até de prestar atenção no que as outras pessoas falam e consequentemente aceleramos vídeos porque não há paciência com conteúdos longos e bem explicados. Isso é preocupante.

Li um lance de "Brain Rot" ou apodrecimento cerebral e não quero ser só mais uma chata repetitiva que replica hypes do mesmo jeito falando de dopamina ou sei lá o que ou voltando lá atrás no homem das cavernas, ignorando totalmente a cultura que estamos inseridos. A grande questão aqui é que nosso cérebro realmente foi modificado. Aconteceu algo com ele que, de repente perdemos a paciência de ler, de escrever, de olhar pro horizonte e ficar tranquilo, de prestar atenção em um filme...

E aí, esses canais que resumem filmes prosperam porque eles possuem um título chamativo, o narrador fala com uma voz branda e reconfortante e vai narrando sem enrolação, sem esmolar like, sem vinheta ou tolices do tipo. Resume 1 hora de vídeo em 20 minutos e mostra as imagens focando nos pontos chaves e principais da trama. Pra quem, há muito tempo perdeu a paciência, esses canais são um prato cheio.

Um amigo tentou assistir o filme "O Irlandês", que tem pelo menos 3 horas de duração. Ele disse que chegou no limite em meia hora de filme e que começo dar ranço nele prestar atenção numa obra tão longa. Que bom que ele foi sincero.

Eu disse a ele que nos anos 2000, aposto que ele assistiria tudo prestando atenção. Não havia celular, ele não ficaria checando. Ele pensou, mas não me respondeu nada. Hoje em dia, quem consegue prestar atenção num filme sem encostar no celular? Até no cinema eu já vi gente mexendo no celular.

Nesse aspecto, nossa mente está apodrecida e doente. Como de repente a gente não consegue mais ler nada e passamos a consumir esses vídeos curtos sem nos darmos conta de que isso é prejudicial? Apenas aceitamos qualquer coisa que nos dão de bom grado e isso vai fazendo mal.

O google também está matando o que resta dos blogs. Há quem ainda escreva, como eu, mas isso aqui jamais aparecerá nas pesquisas. E também existem locais que substituem os blogs como Medium e Substack. Ambas plataformas oferecem monetização. Eu não acho isso errado, mas não pago pra ter informação. Não estou desvalorizando o trabalho alheio, nada disso. Acontece que eu acredito em certos ideais em que cobrar por informação não está entre eles.

Eu não sou contra a mídia falada, vídeos e podcast. Eu acompanho muitos e até sou usuária de audiobooks. A grande questão é que eu conheci uma internet em que você não precisava assistir vinheta, nem ouvir youtuber esmolar like, socar propaganda da camiseta bosta ou qualquer outra coisa, ouvir um monte de lenga-lenga até entrar no assunto do vídeo. Isso quando os youtubers, entre uma fala ou outra colocam um vídeo de meme aleatório.

Enfim, voltando aos tais vídeos com resumo de filmes, eles não possuem essa linha. Eles vão direto e conseguem angariar milhares de visualizações resumindo filmes pra uma geração que não consegue mais prender a atenção em nada.

Me pergunto todos os dias, como fomos trocar os blogs por vídeos... Ok, eu não quero ser injusta. Ambas coisas tem seus encantos, mas vejam o que o youtube se tornou, uma máquina de gente sedenta por dinheiro, fazendo qualquer merda pra viver de renda tendo que trocar a liberdade do que falar e postar apenas pra ter o hype do momento.

Ok, vamos lá... Sei o que você deve estar pensando, né? Havia o saudoso "Estraga Filmes" e ainda existe o Final do Filme, que se dedica a contar o final dos filmes, revelando o enredo e oferecendo explicações. Eu lembro que procurava essas mídias quando precisava de alguma explicação sobre o final do filme, tal como vejo muitos youtubers explicando o final do filme, não resumindo o filme todo pra você porque você não quis assistir.

Hoje, quanto mais rápido for alguma coisa, melhor. Você acelera vídeos, busca resumo, só vê vídeo curto e há tempos perdeu a paciência de ler, certo? Se isso não te preocupa, fecha esse blog e se joga. Mas se isso há tempos te incomoda, queria dizer que isso tem jeito.

Não é simples e eu não tenho uma forma de te mostrar como. O que tenho a dizer é que é preciso reagir, tentar ver menos vídeo, praticar o mindfulness (atenção plena), desligar o celular algumas horas do dia e forçar a ler um livro, nem que seja duas páginas por dia.

Ainda podemos fazer da internet um lar agradável novamente. 












quinta-feira, 29 de maio de 2025

Influencers estão causando uma crise sanitária com bets

 

 

Eu não vou comentar a respeito dessa falcatrua que foi a CPI das Bets e a senhora Virgínia Fonseca usando aquela palhaçada toda pra promover suas publis. Não quero acabar com minha saúde mental que já não é muito das melhores. Agora os noticiários publicam a respeito da traição de seu marido e isso pode ser uma cortina de fumaça pra esconder o assunto das bets, que cá pra nós, pegou mal pra caralho.

Não quero me prolongar nesse texto, pois a revolta que sinto é grande e isso atrapalha minha vontade de escrever porque eu só consigo sentir algo e não colocar em palavras. Esses influencers estão causando uma verdadeira crise sanitária. Eles se focam maldosamente e sem qualquer escrúpulo no público jovem e mais vulnerável que os segue e tem essa relação de confiança.

Isso causa impactos devastadores na saúde mental, depressão, ansiedade e pânico. Causa endividamento grave, suicídios e isolamento familiar. Depois, não é o influencer que fará nada por essas pessoas, mas é o dinheiro público que será gasto para o tratamento desses vícios em apostas. 

Os influencers dizem com imensa maldade "joga quem quer". Não é assim tão simples. Toda vez que uma empresa vende algo, é necessário também que o consumidor tenha seus direitos e proteção. Uma empresa não pode vender produtos vencidos e nem comida estragada. Não pode vender coisa quebrada sem sofrer as penalidades da lei. Não pode fazer venda casada e nem esquema fraudulento de enganação como a dona Amazon atualmente com essa história de colocar publicidade nos filmes do streaming e cobrar mais caro pra retirar. Que proteção tem o consumidor dessas porcarias de bets? Nenhuma. Não vai pra lado nenhum isso, os influencers ganham e ninguém é punido.

A coisa é tão revoltante que esses lixos se sentem muito seguros pra entrar no senado e falar na maior cara de pau o que bem entendem, que não são responsáveis por quem aposta e joga quem quer. Nada acontece com eles, nem com essas empresas. É fácil julgar as pessoas quando não se está olhando o desespero delas. Eu sei que há quem alegue que a culpa é de quem entra nessa sabendo que isso é furada, mas pense bem em quantas vezes a gente mesmo não foi enganado por falsa propaganda. É um caminho longo para o entendimento de que certas coisas não valem a pena comprar e até que isso aconteça, a gente já gastou nosso dinheiro com coisas que hoje julgamos que não valeu a pena.

Se temos essas informações, ótimo, mas nem todo mundo tem essa consciência. As coisas não são perfeitas, mas se alguma empresa te sacanear, você pode acionar o Procon e brigar por seus direitos. As bets, ao contrário não tem regulamentação de nada, o influencer fala o que quer, as empresas conduzem da forma que bem entendem e a crise sanitária de saúde mental vai se agravando. O que o influencer faz de bom além de sugar o seu dinheiro? Analise bem. Eles não tem serventia pra nada, além de entretenimento barato pra pessoas que já nem sabem porque ficam olhando aquilo. Talvez performar a vida seja mais atraente que viver uma vida autêntica.

Eu acredito que essas coisas deveriam ser legalizadas, regulamentadas e a propaganda proibida. Se as big techs descumprissem as normas, o peso da lei deveria recair sobre elas, afinal, plataformas digitais como o instagram não são coisas inocentes e orgânicas, mas sim uma empresa de publicidade, que usa todos os artifícios pra te manter lá por horas e horas a fio, sugando seu tempo e sua saúde mental.

Sabe aquele anuncio que tem nas latas da cerveja? Algo mais ou menos assim:

"Beba com moderação"

Pois é, essa coisa aí é obscura pra caralho porque o que seria essa moderação? Um copinho americano de cerveja? Um dedinho de whiskey? Duas latas de cerveja? Meia garrafa de vinho? Enfim, não dá pra saber o que seria essa moderação e se todo mundo exercesse isso, essas empresas não lucrariam. Quem coloca esse "beba com moderação" no cantinho da latinha da cerveja é a própria indústria do álcool porque não existe uma regulamentação que os obrigue a colocar ceninhas degradantes como dos 7 tipos de cânceres que sabidamente essas merdas podem causar, mais ou menos como é o verso do maço de cigarro. 

Se não há regulamentação, as empresas farão o que bem entenderem, não duvide disso. Se elas podem, elas farão, a propaganda será agressiva, elas vão usar os influencers pra obter todo lucro possível, eles vão querer seu seguro desemprego, seu décimo terceiro, seu benefício social, seu pé de meia, sua renda extra, vão querer que você faça empréstimo e nada disso vai bastar. Eles vão sugar a sua alma, te deixar viciado e mesmo que você se recupere, aquela vontade de sucumbir ao jogo sempre estará lá. Não há dúvidas de que a sua alma está na jogada e os influencers vão ficar cada vez mais ricos e futuramente serão lembrados por causar essa desgraça de crise sanitária.

Sei que sou só uma pessoa entusiasta que há anos escrevo esse blog por escapismo e porque aqui é um espaço que ainda posso falar mal dessas coisas sem censura. Eu não tenho relevância, sou só uma pessoa comum que desistiu das redes sociais e gostaria que todos desistissem e debandassem também. Por outro lado sei do poder que essas desgraças tem sobre as pessoas, mas acredite: todo esse poder que a big tech exerce sobre você, é dado a eles de bom grado. Você acha que isso é necessário e não é. Se é necessário pra influencer ganhar dinheiro, ok, mas antes de mais nada, você está lá pra dar dinheiro a eles. Não defenda essas pessoas. No dia que tudo der errado, eles estarão salvos, deitados numa pilha de dinheiro e você não terá nada. Some isso com a saúde mental em frangalhos e pronto.

Precisamos reagir. Eu sou entusiasta de uma velha internet que ninguém precisava ver 20 publicidades pra acessar um conteúdo, nem dar dinheiro nenhum pra influencer pra obter informação. Aqui escrevo porque sei que as pessoas irão ler de graça e quem sabe refletir. Vamos viver uma vida autêntica e fazer bom uso do nosso dinheiro e saúde mental.


 

Por que vocês escutam influencer fitness?

 

Mais ou menos no ano de 2008, pelo que me lembro, ainda na era dourada dos blogs, li uma postagem falando algo do tipo: "As 10 dietas mais bizarras do mundo". Até encontrei um antigo blog falando sobre isso. Naquela época, apesar de dietas serem populares, essas bizarrices ocupavam um lugar obscuro e marginal no grau de importância da vida.

Eles satirizavam, por exemplo, a dieta uga uga, um deboche para o nome dieta paleolítica. Pra mim isso é algo extremamente risível até os dias de hoje, mas qual não foi minha surpresa ao ver que as coisas mudaram em um nível que o povo decidiu dar algum respaldo científico pra essas bobagens e discutem os riscos, benefícios e diversas nuances dessa tal dieta que num passado nem tão remoto considerávamos bizarrices proferidas por um grupinho de fanáticos.

Alguns influencers andaram virando a chavinha do conteúdo e decidiram entrar nesse universo fitness porque isso dá dinheiro e mais atenção, nem que pra isso falem bobagens sem ter estudo e embasamento adequado.

Houve um tempo que tinha a Gabriela Pugliesi falando um monte de asneiras sobre exercício físico e dietas. Hoje em dia, há legiões desse tipo.

Gracyanne Barbosa, uma celebridade fitness que se não me falha a memória, tinha muitos haters. Os comentários em suas postagens eram o puro suco do ódio. Hoje em dia chamam ela de musa. Saliento que nunca achei nem um pouco legal o hate que Gracyanne recebia. Nunca vi motivo nenhum pra atacar alguém de graça assim, muito menos por causa do corpo. Meu ponto aqui é que as coisas sempre podem mudar. Ontem era ridicularizada, hoje é uma musa inspiradora.

Conteúdo sobre emagrecimento e ganho de massa está por toda internet. Charlatões propagando tolices sobre alimentação e profissionais sempre dispostos a respondê-los desmitificando eternamente essa porcalhada anticientífica.

Fazer checagem de fatos pode ajudar algumas pessoas, mas de modo geral, não é tão relevante. Se uma mentira ganha status de verdade, ela passará a ser verdade. Por isso você vê tanta gente estúpida falando que não pode comer fruta, glúten, lactose e outros alimentos frescos, mas pode usar anabolizantes, insulina e suplementos controversos livremente, conseguem milhares de seguidores e fiéis de seita, que se sacrificarão por eles e gastarão seus dinheiros com procedimentos duvidosos.

Um dia me enviaram um vídeo de uma senhora comendo uma barra de manteiga como se estivesse mordendo um pastel. E ainda falava trocentos rios de bobagens sobre dieta carnívora, o que me faz pensar que, se esse era o objetivo do nosso desquerido lagarto reptiliano Mark Zuckerberg, de fazer tolices se tornarem amplamente difundidas ao ponto de virarem falsas verdades, meus parabéns, ele conseguiu isso com sucesso. Sempre haverá quem acredite que a terra é plana.

O dia é difícil, o metrô tá lotado, você nem sempre tem tempo pra cozinhar e ainda gasta seus preciosos minutinhos ouvindo charlatões. Se não pode fazer uma refeição, compre o pacotinho mágico não sei do que e vire ele com leite. Ou faça jejum a noite, depois de um dia exaustivo de trabalho. Esqueça seus problemas financeiros e gaste um tubo de dinheiro no suplemento da influencer picareta das bets. Acredite que você terá o bumbum da Barbara Borges apenas usando método controverso de aeróbica. Ou que terá um físico igual do Ramon Dino comendo tapioca e usando o cupom de desconto da droguinha do influencer que recebe dinheiro do laboratório obscuro. Eles te iludem pra sugar o seu dinheiro.

Tome cuidado com esses influencers. É a sua saúde que está em jogo. Você não precisa se frustrar porque não consegue ir pra academia todos os dias. Nem precisa, na verdade, fazer academia se você não gosta, aprecie outros esportes. O básico na nossa vida sempre funcionou muito bem e logo não vai demorar para que tenhamos uma crise sanitária e a culpa é majoritariamente dos influencers que causam esses problemas. Muitos deles não servem pra nada, só estão lá unicamente pra sugar o seu dinheiro.

Por que você conta quantos livros você lê?


 

Eu nunca usei Tiktok na vida. Tudo que sei sobre essa rede são informações que vejo por aí, vídeos que os amigos compartilham e coisas que eventualmente vão parar no youtube. O instagram adotou o modelo de vídeos curtos nos reels e o YouTube também tem repetido essa mesma lógica no shorts. Dá pra se ter uma ideia do quão viciante que é o tiktok.

Uma coisa que andou me chamando a atenção, é que muitos Youtubers fazem vídeo falando a respeito de como o hábito da leitura tem se transformado no tiktok. Se por um lado há uma coisa boa em fazer todo mundo ler, por outro, existem pessoas que ficam ansiosas e tristes por não conseguirem ler o volume insano de livros que esses influencers do tiktok são capazes de ler. 

Na época que eu fui adolescente e estudava, não havia essa coisa de clube de livros, ao menos não tão acessível. Eu lia bastante, mas era algo bem individual, dificilmente as pessoas dividiam experiências de leituras e indicavam livros. Quando fui trabalhar com uma moça muito jovem, 24 anos, que tinha ainda lembranças frescas da escola, ela me disse que lia bastante desde a escola, plataformas de livros eram populares. Isso antes do tiktok. Agora, imagino que a coisa deva ter mudado ainda mais.

Eu já me peguei lendo livros que esses influencers indicam e até vi que as livrarias colocam selinho de livro mais indicado no tiktok. Parece que o mercado editorial deu uma esquentada com essas plataformas. Eu não acho ruim, sinceramente até aprecio a ideia de todo mundo ler. Mas há alguns problemas que vieram com isso.

Primeiro, contar quantos livros lê para uma certa competição, na minha opinião é como promover uma perda do prazer da leitura. Aquela leitura profunda, reflexiva, emocionante. Não que isso não ocorra quando você começa a contar quantos livros leu. Mas essa obrigação não é necessária. Mais vale ler um livro grosso com emoção e sem pressa, que 15 livros por mês do qual a leitura não serviu de muita coisa. E eu sei que é possível ler 15 livros e a experiência ser muito gratificante, mas sério, essa é uma falsa obrigatoriedade. É uma competição boba que não serve pra nada.

Se você está lendo um livro de não ficção como os de política, psicologia, história, biografias, etc, é ainda mais complicado porque esse tipo de leitura requer mais reflexão e por vezes é interessante fazer anotações e fichamento. Eu também tenho reparado que muitos desses influencers fazem anotações em seus livros, colam postits, marcadores de páginas, usam aquelas canetas grossas pra destacar frases e muitas vezes até fazem publi delas. Minha avó foi uma professora normalista. Ela deu aula da década de 30 até 60 e eu acabei herdando muitos de seus livros. Nenhum deles veio marcado. Não era um hábito que os antigos faziam e não é um hábito que eu faço. Eu só coloco marcadores quando é livro de estudo. Eu sou formada em filosofia, quando estudo um tema, então eu faço anotações e fichamento. Fora isso, não vejo muita necessidade de marcar livro que muitas vezes eu só vou ler uma vez. 

Mas ok, isso é algo muito particular. Sempre teve quem fizesse isso, minha mãe uma vez emprestou o livro dela e ele voltou todo rabiscado e marcado, o que a fez nunca mais emprestar seus livros. Hoje eu uso bastante leitor digital, o que facilita bastante pra mim, é o lado da tecnologia que eu aprecio. Nele, eu faço anotações, mas sempre marco livros que não são de ficção. Isso é um gosto particular de cada um, mas você não tem essa obrigação. Não faça isso porque viu a fulana do canal x fazendo ou a tiktoker rabiscando livros fazendo publi pra marcas que vendem essas bugigangas.

Eu vou contar um pouquinho do que aconteceu comigo. Houve um tempo que eu tinha engordado bastante e não estava me dando bem com algumas pessoas no trabalho. Estava complicado também me locomover até o trabalho, eu gastava mais de 3 horas pra ir e 3 pra voltar. Chegava em casa quase 9 da noite, cansada, não tinha muito tempo pra quase nada. Eu apenas abria livros, como sempre fiz e lia no transporte público. Aliás, ler no transporte público é um hábito que me acompanha há mais de 20 anos. Hoje em dia existe tecnologia pra ouvir audiobook e eu aproveito elas.

Nessa época eu apreciava muito os canais de booktubers e trabalhava perto da antiga livraria Saraiva. Eu sempre via as resenhas de livros e na medida que podia, entrava lá e comprava livros. Assim, acumulei mais livros do que eu realmente podia ler e muitos deles ainda estão jogados na minha estante. Nunca dei conta de conseguir nem começar e quando comecei, muitos deles nem terminei. Ou seja, consumir não tem nada a ver com realmente ler e se aprofundar na leitura. Antigamente eu ia na livraria, olhava a capa de um monte de livro e depois decidia qual levar. Comprava exatamente o que ia ler e lia com gosto. Hoje em dia, eu tenho muitos, mas muitos livros e quando já não tinha mais onde enfiar livros, eu ia lá e comprava mais. O resultado foi uma estante abarrotada de livros que, muitos deles eu estou decidindo por vender e doar porque eu realmente não vou ler.

Se eu puder te dar uma dica, é sempre pra exercer a paciência quando começar uma leitura. Livros não deveriam ser objeto de ansiedade, você não tem obrigação nenhuma de aceitar desafios de ler 15 livros por mês ou 80 livros por ano. Se você trabalha e estuda, livros deveriam ser usado pra descansar a cabeça, não pra gerar esse estresse. Você também não precisa ter uma estante cheia de livros. Eu li muitos livros clássicos e livros nacionais pegando emprestado na biblioteca da escola, o que, aliás, se você puder, ainda é possível fazer.

O que importa é o enriquecimento que a leitura proporciona, não fazer disputa pra ler mais ou acumular 500 livros na estante.