Há pouco tempo trabalhei com um homem alcoólatra que não se importava com isso. Ele dizia que estava feliz desse jeito, porém, a felicidade dele estava deixando sua família deprimida. Ele não fazia mal a ninguém, mas simplesmente não falava com os filhos e nem encostava na esposa. Sua função era trabalhar para não faltar nada em casa, e já bastava. Quando saíamos para Happy Hours, ele sorria timidamente, conversava, mas sempre alguma coisa o puxava para longe. Era como se algo dissesse "hei, você está se divertindo, está indo longe demais, volte para seu mundo". A rotina dele era trabalhar o dia inteiro, a noite beber o quanto podia e só na calada da noite, quando os filhos estavam dormindo, ele retornava para casa. No dia seguinte chegava lá com o rosto visivelmente cansado, maltratado, de quem teve uma péssima noite de sono. Dores de cabeça eram frequentes, assim como as queixas de insônia. Mas ele alegava, com todo louvor do mundo que estava bem, feliz, e que as pessoas que se incomodavam com isso eram grandes idiotas. Sim, é bem verdade que era problema dele. Mas depois que eu saí do trabalho, tive notícias que a família dele tentou ajudá-lo com tratamento psicológico, e ele negou. Até onde eu sei, ele prossegue feliz com sua vida de bebedeira. Eu espera um final feliz para o meu colega, mas infelizmente é tudo que sei sobre ele.
Toda essa história serve para comparar com aqueles que não conseguem enxergar nenhum problema em passar seus dias dedicados a ver coisas irrelevantes na rede social. Essas pessoas são capazes de ver o lado positivo e somente isso - e ai de quem for lá falar o contrário.
No meu facebook, eu conheço pelo menos 8 com esse perfil. Eles passam o dia inteiro conectados e qualquer hora que você chamá-los, eles estarão lá. Um deles é um caso extremo daquele que tenta te convencer que a tecnologia está mais ajudando a enobrecer o ser humano do que roubando a vida dele. E, de fato, a tecnologia é importante para nossas vidas, embora eu tenha minhas críticas e falarei sobre elas nesse blog. O problema é quando o abuso é evidente, quando você não consegue mais desconectar, nem relaxar, nem dormir direito e passa a dar mais importância a ela do que sua vida real. De repente você se desliga completamente de sua existência para ficar em estado semi-criogênico na rede social. Exagero? Não!
Essas pessoas acham normal o caso do meu colega citado no início desse texto? Acham bacana qualquer forma de abuso, vício e fanatismo, seja de álcool e outros tipos de droga (lícitas ou ilícitas), religião, ideologias, jogos? Então, por que essas pessoas não enxergam o mínimo possível de problema no abuso de redes sociais? Ninguém está se posicionando contra as redes, mas sim ao abuso, ao excesso de informações irrelevantes, à perda de tempo.
Imagine quantas pessoas atrasam seus projetos para ficarem conectados e no fim ficam arrependidos, prometendo que no dia seguinte será diferente.
Eu estou aqui dizendo que eu perdi completamente o controle, fui demitida uma vez por culpa do facebook e não bastasse isso, após a demissão, passei parte do meu tempo desempregada, conectada na rede sem enxergar a dimensão do problema que tinha acontecido. Essa sensação de perda de controle não existe só na rede social. Muitos são compulsivos com comida, com drogas, com jogos... Como antes eu já havia citado aqui: quando o excesso começa a te prejudicar e se você enxerga problema, então temos um problema. Não ignore.
Outro dia, esse meu amigo que possui um caso extremo de vício, não reconhece e ainda acha idiota quem faz esses questionamentos, postou a seguinte imagem com essa legenda:
"Eu, saindo de casa para um mundo que não tem internet" |
Será que você entende, cidadão irradiado pela luz do celular, que nós precisamos de luz do sol, precisamos de ar puro, precisamos andar, sair, confraternizar? Ou você é daqueles que enxerga um padrão lógico em tudo e se recusa a entender que somos seres emocionais, com dificuldades, que sonhamos, temos sentidos e usamos diversos deles e que a rede social te priva de usar esses sentidos, você só escreve e lê? E claro, sente raiva, porque esse sentimento vai te impulsionar a continuar postando, enfurecido, tudo que pode, discordando de meio mundo, querendo que todos saibam da sua opinião.
Outro dia uma pessoa publicou uma foto com saudosismo da época que brincava de amarelinha na infância e lamentou que as crianças hoje estão viciadas em tecnologia. E, claro, pra variar, os grandes humanos que não enxergam problema na tecnologia, criticaram ela, falando o seguinte: "espero que continue assim. Você tem é inveja que as crianças hoje são mais espertas e têm coisas que você não podia ter na sua infância".
Disse o grande entendedor de educação infantil desse mundo. Acontece que as crianças PRECISAM brincar.
E existem problemas reais em deixar a criança usar livremente tecnologias como o celular. Também existem pessoas na internet caçando crianças e oferecem perigos reais para elas.
Também recomendo o documentário "Criança, a alma do negócio", que mostra que a psicologia do consumo é muito mais cruel para crianças.
Essas pessoas parecem ignorar os problemas sociais para se apegarem aos seus achismos.
Elas exaltam tudo que as redes possuem de bom e são incapazes de enxergar qualquer coisa negativa. Mas o que aconteceria se, de repente o fluxo de informação em excesso começasse a diminuir? Provavelmente seriam as primeiras a ficarem nervosas.
Não escute essas pessoas. Sério. Se você concluiu que as redes não está te fazendo bem, ignore qualquer comentário apelativo desses elementos, que só estão preenchendo uma base de dados com futilidades. Se for um vlogger, desconfie em dobro, pois ele se sustenta às custas de sua audiência e, acredite, você não significa nada para ele senão um número, um volume.
E se você é um desses que só conseguem enxergar o lado bom da rede e vive criticando quem analisa os problemas, eu te convido a repensar um pouco sobre suas crenças.
A internet é um mundo incrível, sem dúvida. Mas o abuso, o excesso nunca é um bom negócio para nossa saúde emocional, e às vezes está lhe fazendo muito mal e você se recusa a perceber.
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