Eu me lembro que, ao acordar, a primeira coisa que eu via era o facebook. Depois, tomava café acompanhando os vloggers do youtube. Em seguida ia lá mexer no twitter e depois ler as notícias do dia. No início era um rio de felicidades. Depois, meus amigos, alguma coisa deu errado.
Eu comecei a perceber que algo havia roubado o meu brilho.
Eu tinha me dado conta de que não conseguia fazer absolutamente NADA sem antes dar uma bisbilhotada no facebook.
Essa "bisbilhotada", que era para durar no máximo 1 minuto, acabava sempre me consumindo e eu perdia a linha. E claro, todos nós sabemos que são sempre com coisas inúteis.
Certa vez, a prima de um amigo querido fez um comentário em sua postagem. Eu notei que no perfil dela havia uma foto dela e seu marido, um homem que foi para a guerra do Iraque. Curiosa, acessei o perfil do marido dela e lá estava o álbum de foto dele, a maioria ele sempre aparecia fardado, com arma, se vangloriando de seu feito. E fiquei ali, sabe-se lá quantos minutos olhando aquelas fotos que me prenderam. Quer dizer, eu perdi um grande tempo com alguém que eu sequer conhecia.
Outro caso foi de uma amiga que fez um comentário no álbum de fotos postado por uma página de astronomia. Como apareceu na minha timeline, eu fui lá conferir as 150 fotos que a tal página postou. Uma mais bela que a outra, e eu fiquei ali, horas observando as imagens cósmicas enquanto o céu estava limpo e eu poderia ter olhado do meu telescópio.
A coisa piorou muito. Sempre que eu saía eu pensava no facebook. Ele tornou parte do meu mundo, chegou na minha vida, ficou e praticamente ali se instalou. Em uma fração de segundos, eu havia esquecido como era não ter rede social. Era impossível imaginar qualquer coisa sem internet.
Eu estava viciada. Talvez até pior de quando eu era viciada em cigarro: era um vício diferente, mais cruel, mexia com meus sentimentos, roubava minha felicidade. Não que o cigarro não o fizesse, mas as redes sociais têm muitas maneiras de fazer com que seu cérebro fique preso naquilo, sem controle, sem hora para desconectar.
Quando mudou?
Eu comecei a questionar uma série de coisas e decidi escrever em um blog para tornar pública a minha experiência.
A primeira coisa foram as pessoas. Minha percepção da realidade começou a mudar quando eu notava que a minha vida parecia não andar pra frente e eu cheguei ao cúmulo de ser demitida do trabalho por causa do facebook. E claro, não só do facebook mas do youtube também. Mas aqui, quero focar no facebook.
A primeira vez que tive um insight sobre o tempo gasto na rede, era que eu não estava só:
meus amigos também pareciam estacionar os seus cérebros ali, me fazendo lembrar um filme chamado "Surrogates", onde os humanos não interagiam mais pessoalmente, mas só através de robôs. Eu achava tudo deprimente, mas era incapaz de fechar a rede. Eu estava presa naquele mundo vazio.
Ok, pode ser exagero. Será?
Eu tenho um "amigo" - 90% não são meus amigos de verdade - que fica 24 horas conectado. Ele não para de compartilhar nada, passa o dia inteiro selecionando assuntos aleatórios com objetivo desconhecido. Ok... Talvez nem ele saiba porquê faz isso.
Outros têm família. Postam foto dos filhos e de quão feliz é sua vida de casal. É feliz mesmo? Qual razão leva esses elementos a gastarem suas preciosas horas conectados no facebook? Por que não estão ao lado de sua linda família?
Incluo o curioso fenômeno dos casais que vivem fazendo juras de amor publicamente, como se todos estivessem interessados na vida deles. Passa 2 meses, estão separados, postando frases deprimentes e músicas cafonas.
Por falar em frase, sempre tem aquele que adora postar uma frase aleatória que, muitas vezes nem pertence ao autor destacado. Por que fazem isso? Quem sabe. Talvez gostem de acreditar que possuem alguma propriedade intelectual avantajada.
Uma coisa que se tornou um clássico são os religiosos e ateus. A briga chega a níveis estrondosos, equivalendo a bloqueio e denúncias. De um lado sai o ateu chorando que está sofrendo preconceito do religioso - mas sem antes ir lá dizer ao mesmo que ele não tinha inteligência por acreditar em uma cobra falante. Do outro lado fica o cristão choramingando, mas sem antes ter feito um discurso homofóbico, ou machista. Francamente, em que isso agrega em nossas vidas? Absolutamente nada. Só serve para o delírio dos participantes da baixaria.
O cara que fala de política também acredita fortemente que está apto a fazer uma análise sem conhecer absolutamente nada do que diz. Alguns na base do achismo, outros na base do delírio, outros na base do ódio. Os que fazem a maior questão do mundo de chamar o bolsa família de "bolsa esmola" e as cotas de "afrocoitadismo" pra demonstrar o quanto ele se importa com o Brasil.
Os machinhos de plantão são os que me causam mais curiosidade. Eles fazem questão de mostrar que são os pica das galáxias, os donos da giromba de ouro, machos pra caralh* e para que ninguém duvide da macheza deles, nada melhor que humilhar as mulheres. Mas claro, o complexo de superioridade chega a níveis estratosféricos quando se está em um escudo chamado rede social.
Existem os que postam selfie por minuto. Até quando estão doentes, no leito de um hospital, eles precisam que todo mundo veja e que todo mundo alise a cabeça deles.
Na boa, quem diabos se importa com isso? As pessoas fingem que se importam, mas ficam ali te chamando de chato porque você só quer atenção. Você era assim antes da internet?
As pessoas que ficam o dia inteiro postando foto dos rebentos são outro caso a ser estudado. É sério que essas pessoas pensam que todo mundo está achando lindo o filhinho delas? Olha, amigas e amigos, eu sempre acho crianças muito fofas, mas que atire a primeira pedra quem nunca se perguntou algo do tipo "coisa chata, só ficar postando foto do filho". É... Não é estranho que essas pessoas tenham dificuldade de lidar com quem não quer ter filho ou quem não suporta falar sobre crianças.
Um tipinho estranho é o que anuncia que fará uma "faxina" no face dele. Claro que ele faz isso pra arrancar o clamor geral "por favor, não me exclua" e assim se sentir um pouco mais especial. Não anuncie, amigo... Vá lá e faça.
No meio disso, surgem os super desconstruidores e problematizadores de absolutamente tudo. Ok, nada errado em desconstruir certos pensamentos, mas existe um nível que chegou com a pós modernidade que simplesmente fez as pessoas matutarem coisas extremamente inúteis.
Talvez essas pessoas nunca tenham mesmo vivido um real problema na vida.
Ta bom, vou pensar se atendo seu desejo.
A galerinha do "No Pain, No Gain" não fica pra trás com foto de academia fazendo questão de mostrarem o quanto são "guerreiros". O que fizeram na verdade? Ganharam a guerra sozinhos? Não. Simplesmente estão levantando peso pra enrijecer o quadril. É gente... A sociedade chegou nesse nível. Não satisfeitos, eles buscam toda a atenção de "frangos" e "gordinhas", mostrando o quanto todo mundo pode ser feliz se começar a malhar. Parecem pastores de igreja querendo arrebanhar fiéis para o culto. E quando você começa a duvidar da sanidade dessa gente, eles se saem pela tangente: é inveja, claro. Porque na cabeça deles, é inadmissível que alguém lhes diga que tanto esforço da parte deles, só deveria interessar a eles e a ninguém mais.
E as gifs... Eu poderia criar longos parágrafos para falar sobre essa nova onda de compartilhamentos, mas prefiro dizer que são apenas um modo encantador de fazer você continuar horas no facebook. Afinal, elas não têm som, são rápidas e divertidas. Um convite total à perda de tempo.
Mas ok, cada um posta o que quer no facebook.
O problema é você. Você pode se incomodar de ver isso. É vazio, é falso. Você pode estar sentindo que sua vida está sendo roubada por algo fútil, sem sabor, inútil. Nós sabemos que boa parte do que se posta ali é falso. Ninguém é tão feliz quanto parece ali. Quem é realmente tão feliz sendo irradiado de coisas fúteis o tempo inteiro?
Tem o lado bacana de tudo, como sempre. Apreciar com cautela e moderação sempre são o melhor caminho para o equilíbrio. Não vim aqui dizer que você deve eliminar o seu facebook.
Criei esse blog apenas para reflexão. Sua tristeza, amargura, falta de vontade de fazer as coisas, de viver, pode estar atrelado ao tempo que você esgota na rede. Ela pode estar roubando a sua energia, seu brilho, seu desejo de fazer coisas legais. E eu sei que você procurou esse blog porque alguma coisa acontece dentro de você que o faz questionar o que estamos vivenciando.
Uma vez eu li um texto muito honesto de uma pessoa admitindo não ser mais capaz de ler um livro, algo que antes tirava de letra. O pensamento dela foi tomado por tudo que acontecia no facebook. Ele trocou a leitura boa e interessante pelas futilidades nossa do dia-a-dia no facebook. Essa é realmente a impressão que temos: que alguma coisa imperdível acontece ali. Mas acredite, isso não é verdade.
Eu venho apenas compartilhar a minha angústia e convidar à reflexão, para que você pense com o que está fazendo com o seu tempo. Se você realmente sente que algo errado acontece e que você é incapaz de controlar suas ações, vamos refletir juntos.
Fecha a rede!
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