sexta-feira, 19 de julho de 2024

Os bloqueadores fakes dos senhores das Big Techs

 

Há muitas dicas espalhadas por aí sobre como transformar o seu smartphone em um dumbphone, que seria uma versão mais antiquada e básica de celular. Inclusive muitas pessoas ainda usam flip phones, aqueles dobráveis e tentam fazer o que podem para rejeitar a conveniência. Acredito que seria bom se alguém inventasse um "caminho do meio", um tipo de celular que atende as nossas necessidades de hoje, mas que não fossem coisas ridiculamente viciantes como essas que temos aí. Tenho fé que um dia isso acontecerá. O que podemos fazer é arranjar um jeito de não gastar nosso tempo zumbificados nesses aparelhos.

Eu já tentei pela força da vontade e não deu certo, então fui na força bruta e trancafiei o celular. Depois de muito esforço eu consegui tirar a necessidade de viver grudada no celular. Contudo, eu já tentei métodos de controlar o uso do celular por aplicativos oferecidos na playstore e até mesmo no próprio app androide, o Bem-estar digital. Nada adiantou, então eu desisti. Se é pra usar a força, então precisamos aplicar algo que funcione e os apps oferecidos hoje são insuficientes.

É uma ironia que o smartphone foi algo feito para nos viciar e ao mesmo tempo você pode encontrar "soluções" pra isso que prometem ajudar, mas a maioria das pessoas, eu aposto que não se beneficia delas porque você pode facilmente burlar. É tudo uma fachada, um fingimento que estão te dando uma solução, mas não estão. O Bem-estar digital, por exemplo, oferece opção tanto para você bloquear algum aplicativo após determinado período de uso estabelecido ou você também pode informar um intervalo de período que alguns aplicativos podem ficar bloqueados. Por exemplo, das 9 às 18. Então ele bloqueia e você desfruta seu dia impossibilitado de abrir esses aplicativos. Seria bom se não fosse burlável. 

Se eles deixassem você bloquear também as configurações, aí eu botaria uma fé que temos algo que se pode usar a força. Caso contrário, se você consegue burlar, então nada ali está realmente bloqueado. Assim é com os stories do instagram. Mesmo silenciando e colocando no final da fila, eles ainda estavam ali, só que com marca d'água pra você acreditar que realmente silenciou. Eu já silenciei todos que eu seguia e ainda sim os stories continuam aparecendo, mas com marca d'água. O whatsapp também te dá uma opção de esconder os stories, mas é só clicar numa setinha e você consegue ver de novo. Ele só retira mesmo as notificações, vai do seu esforço não olhar e sinceramente, eu não acho que deveria estar fazendo esforço com um celular na mão.

Como esse retângulo preto consegue nos dominar completamente?

Me fiz muito essa pergunta até um dia parar de estragar meu psicológico com perguntas das quais sabemos as respostas. Essa coisa está aí para sugar a nossa atenção e eu não vejo muitas perspectivas de mudança tão cedo.

Como repeti muitas vezes, o que eu fiz foi me retirar das redes sociais e não dar login em mais nenhuma delas, por mais bem intencionada que seja. Se o orkut voltasse a existir eu não daria login nele porque acho que essa época já foi. O que vivemos lá atrás não voltará mais a acontecer. O Orkut foi a última rede social humana e nem tão cedo veremos outra aparecer.

Eu não consigo ser como aquelas pessoas que acessam as redes 15 minutos por dia ou que nem entram. É muito difícil reduzir o uso e mediante a tantos escândalos e tanta sacanagem dessas big techs, eu acredito que abandonar o navio é o melhor caminho no momento.

Quem consegue usar esses bloqueadores fake, ótimo. É bom se comportar e não burlar, mas é muito difícil. Eu não tenho soluções mágicas de redução de uso. Não vou sugerir que use bloqueadores se não funcionam e nem dizer pra você encontrar solução dentro do seu próprio celular. Nada disso funcionou pra mim, o que funcionou foi ter usado exercício de respiração, não levar o celular para a cama e arranjar outras atividades. É muito difícil no começo, mas garanto que dá certo.

Solucionismo digital só dá certo no digital. Na nossa vida prática e real, o que temos que fazer é voltar a viver a realidade.

Profissionais de saúde fazendo dancinha



Eu tenho uma amiga nutricionista que durante muitos anos alimentava um perfil no instagram. Era uma pessoa bem ativa e acreditava ser inadmissível deletar sua conta, o trabalho dela dependia muito daquilo. Assim, a rotina dela como profissional era colocar em seu planner os assuntos que ela postaria, reels, stories e carrossel de fotos.

Quando algum boçal aleatório criava polêmica falando algo de errado sobre nutrição, lá estava minha amiga para desmentir, como diversos de seus colegas que se formaram e levavam ciência a sério. Os vídeos davam muita visualização e ela sempre conseguia novos clientes. Fazia lives com outros influencers de mesma profissão e assim um divulgava o outro e tratavam de assuntos conforme suas especialidades.

Mas um dia, algo deu errado e a saúde mental da minha amiga colapsou. Ela teve um burnout bem feio, precisou ser medicalizada. Ela ficou pensativa sobre o que havia de tão errado assim, já que levava uma vida muito tranquila, ia cedo para o consultório, atendia, às vezes passava do horário, mas nada que a deixasse cansada demais, ela sabia lidar bem com isso. Ela estuda bastante, é verdade, mas isso nunca foi um grande problema, ela gosta do que faz. O que havia de errado? 

Minha amiga trabalhava muito em suas redes sociais e de graça. Isso a fazia acumular mais seguidores que clientes. É bem verdade que a agenda dela ficava cheia, mas isso, de acordo com ela, não se diferenciava muito do que ela fazia antes de ter uma conta no instagram. 

A informação que ela lançava atingia lá uma grande quantidade de visualizações, mas isso tinha um custo porque quem curtia recebia conteúdos não só dela, mas ligados aos assuntos que ela tratava. Ou seja, ela contribuía pra inflar a bolha algorítmica para que o instagram leiloe publicidades. Ela estava trabalhando de graça para o instagram aprender e gerar conteúdos para os usuários que nem eram dela. Então ela tomou uma dura decisão que foi deixar o instagram e alimentar o seu site pessoal. Ela ficou surpresa porque não mudou muita coisa. Ela não precisa mais trabalhar de graça e nem fazer dancinha pra alavancar seguidores, só precisa pagar um anúncio que o google encaminha seu site por região.

Ela reclamava muito da carga emocional que certas coisas traziam a ela. Um exemplo disso é quando algum desocupado charlatão fala besteira e os profissionais sérios o desmente. Eu penso: isso nunca vai parar? Sempre vai ter um maluco falando bobagens sobre alguma coisa científica e um profissional estará de prontidão pra desmentir (e vai perder)? Mas se estamos falando de rede social, esse tipo de atitude vale a pena e quando minha amiga fazia isso, muita gente não gostava e fazia comentários que, como sabemos, pessoalmente não teriam coragem. Por mais que a gente tenha sangue pra aguentar, nem sempre essas coisas passam despercebido e podem nos deixar abalados em algum nível.

Mas quem decide ser amigável com você apenas por ética? Quando se trata de rede social, a polêmica e o engajamento vale muito e isso seguramente levará dinheiro e publicidade aos envolvidos. Se me perguntam se tenho algo contra que um profissional formado faça dancinha, eu vou dizer que não. É evidente que as pessoas fazem o que bem entendem de suas vidas e com seus diplomas. Mas é preciso também sempre pensar e muito os custos disso no presente e no futuro. Você realmente precisa mesmo se submeter ao que um algoritmo quer pra ganhar dinheiro? Acho que a parada de lutar por condições mais dignas de trabalho é muito mais válido.

De repente todo mundo aceita que essas big techs tenham o monopólio de toda a comunicação, acreditam que é indispensável não ter rede social e quando tem, sabem que os conteúdos que mais geram visualizações são aqueles que contém polêmica, dancinha, brigas e por aí vai.

Eu já abandonei cursar em locais que não te dão escolhas e jogam na sua cara que se você não tiver rede social, não vai saber o que está acontecendo. Já parei de praticar Muai Thay em uma determinada academia porque eu não tenho conta no Instagram e era o único meio que eles davam de saber dos horários e avisos de quando não haveria aula. Sempre publicavam nos stories deles e eu não preciso passar por esse tipo de estresse.

Às vezes precisamos sair um pouco da conveniência para não virarmos escravos dos desejos de um. Quem sabe o que ganho escrevendo um blog que sei que quase ninguém lê. Mas eu tenho fé que no futuro as coisas podem sempre mudar e nós encontraremos uma saída.

domingo, 7 de julho de 2024

Quem realmente vai largar as redes?


Fotografia de Joseph Szabo
  Tenho lembranças ruins de drogas porque eu já bebi muito nessa vida e também fui fumante. Parei de fumar em dezembro de 2012, quase 12 anos, portanto. Também já fui aquela jovem maconheira e inconsequente, que não ligava muito para o que fosse acontecer comigo. O negócio era viver, curtir e isso que importava.

Assim minha vida foi passando e eu me dei conta que nada mudava. Não havia ganho nenhum em manter vício, só gastava dinheiro e ficava doente. No dia seguinte eu precisava trabalhar, já que as contas pra pagar nunca dão folga. Viver sempre no prazer, com emoção com cigarros e bebidas, isso era legal, mas em algum momento deixou de ser.

Se a gente notar bem nos filmes e séries, bebida alcoólica sempre está envolvida. Os personagens legais e descolados parecem não ligar muito para o que vão comer, mas gostam bastante de beber. Aliás, a comida deles quase nunca é tão boa, eles comem tranqueira e não se importam com o resto. James Bond mesmo, o 007 tem alcoolismo severo, de acordo com pesquisadores da Universidade de Otago e não aguentaria nem ficar de pé pra cumprir suas missões. Se algum evento exigir alta performance de alguém como correr longas distâncias, lutar, levantar cedo, viajar, etc, o comportamento deve ser exemplar, comer bem, se exercitar todos os dias e evitar bebida e cigarros. E nem pensar que eles teriam aqueles corpos sarados.

As companhias de cigarro até pagam para influenciadores de grande alcance fazer publicidade de produtos como o cigarro eletrônico. Eles miram sempre no público jovem porque é muito difícil convencer uma pessoa mais velha a fazer qualquer coisa. Eles são as forças por trás da rebeldia do jovem crer que está sendo um outsider fumando, bebendo e usando drogas, mas na verdade é só um boneco de vodu das grandes corporações que precisam de lucro. As pessoas legais do seriado estão bebendo e fumando. Estão comendo mal, tomando vodka no café da manhã e fazendo algo com o cigarro na mão. O herói da história, o mocinho, normalmente não é o cara que acorda cedo, faz exercício, se alimenta bem, não fuma, não bebe e cuida de sua aparência. Ok, acordar cedo não significa grande coisa e a maioria de nós não acorda cedo porque quer, mas sair do sedentarismo, se alimentar bem e evitar esses hábitos de beber e fumar é desejável pra vida de qualquer pessoa, sobretudo aquelas que vão saltar de um trem pra caçar um bandido.

O que quero dizer com esse post é que essa imagem do cara rebelde que vai contra a sociedade, que fuma e bebe, foi construída ao longo de anos para convencer a gente a fumar e beber. No século XVIII, o cigarro era muito atrelado às classes sociais. Aqueles senhores da aristocracia eram as pessoas que tinham acesso ao fumo e portanto, era visto como um símbolo de boa colocação social. As bebidas alcoólicas também eram dadas socialmente dessa maneira. Inclusive as bebidas alcoólicas e o fumo resistiram bem a guerra às drogas porque os homens brancos bem nascidos não queriam que ela fosse proibida.

Nos dias de hoje, as redes sociais são aquelas coisas que todo mundo ainda tem e no caso da geração z, já nascem vivenciando isso com a condição de que é normal ter rede social. As pessoas reclamam do twitter, que é uma insanidade onde se propaga tretas e quebra-pau sem sentido, mas não saem de lá. Claro, há quem diga que trabalha e não pode ficar sem, mas se o twitter perdesse a atenção, essas pessoas seriam forçadas a saírem de lá. E o foco desse post não é quem trabalha com rede social, mas sim a maioria que reclama, mas continua lá. Sabem que tem algo de errado mas acreditam que não podem ficar sem, precisam estar logado. Reclamam da vida boa que todo mundo leva no instagram com viagens e sei mais lá o que, mas são incapazes de sair de lá. O instagram, aliás, essa rede que se tiktokizou, o grande problema pra mim é mostrar pouco do que a gente realmente quer ver e entuchar o feed com publicidade e tolices que prendem nossa atenção, videozinhos curtos de gente estranha fazendo coisa esquisita.

Na minha opinião, os verdadeiros rebeldes à sociedade são aqueles que podem dizer não a coisas que causam problemas. Eu aqui sempre acho uma boa ideia deletar as redes sociais, mas não posso obrigar ninguém a fazer, embora incentive. É sempre bom viver sem estar exposto. No momento que escrevo esse texto, quero saber qual será o próximo viralismo, a próxima polêmica, quem a internet dará fama, pelo bem ou pelo mal. Isso é algo normal nas redes sociais, os assuntos se tornam polêmicos, entram em alta e caem no esquecimento. A Choquei volta a ser o que era antes, Pablo Marçal fica mais famoso do que nunca e nem sendo condenado pela justiça, figuras como Renato Cariani deixam de ficar em alta. 

É o preço que se paga por aceitar todas essas coisas controladas por grandes corporações e não por nós. A única solução que vejo é sair. Já fui do partido de que era possível controlar e não acessar, mas eu estava enganada. A única solução é deletar e parar de dar atenção a esse monte de bobagem.


***ATUALIZAÇÃO***
No dia 07/07/2024, esse post foi ao ar e eu não sabia que Pablo Marçal se tornaria candidato à prefeitura de SP, com expressiva quantidade de votos. Ele quase foi para o segundo turno!
Ele mesmo compartilha bobagens nonsenses na página dele para que o conteúdo seja viralizado.
Nesse vídeo, ele explica que joga informação falsa de propósito para ser corrigido e assim fazer o vídeo dele viralizar.
Sei que ocupo um lugar de irrelevância imensa insistindo em blogs, mas não vejo jeito melhor de trocar informação que não tenha sido processada e influenciada por um algoritmo. Compartilhar vídeo de pessoas como ele, é perigoso. Está na hora de todos percebermos que os influencers que fazem o modelo de react só querem ganhar dinheiro, não possuem nenhum compromisso sério com mudanças significativas.

 


sexta-feira, 5 de julho de 2024

Informação ultraprocessada

 Estava lendo o blog do Carl Newport e vi que ele trata o conteúdo da internet que chega até nós como "ultraprocessados", o mesmo termo usado na comida junk food. Esse conceito de informação ultraprocessada está sendo usado pra definir como as big techs definem o jeito que as informações devem chegar até nós, de uma forma bem reduzida e trabalhada para que vejamos somente aquilo definido pela bolha algorítmica. 

Ou seja, a informação é escolhida e processada, chegando até você é o que o algoritmo quer que você veja, e não propriamente dito o que você quer. A comida ultraprocessada não substitui a comida de verdade, mas ela é conveniente. É rápida, simples e gostosa, porém, nosso corpo não tem grandes capacidades de lidar com ela, tal como nosso cérebro não tem muita aptidão pra lidar com tanta informação. Acaba no mais absoluto esgotamento.

Temos acesso hoje a uma grande quantidade de informação, nem sempre com qualidade. O linguajar falado pela internet parece sempre igual, você procura tudo sobre um determinado assunto e, se você usar o buscador do google, ele não vai te oferecer nada além de coisas muito obvias, colocando em ordem primeiro alguns sites que pagam pra ter relevância na pesquisa.

Um dia ainda escreverei sobre a dopamina. Eu fico muito revoltada que todas as vezes que procurei saber sobre vício em redes sociais através do youtube, achei curioso que todos os canais falavam sempre de dopamina. Deu até desânimo. Basicamente aqueles engravatados do Vale do Silício criam todos os problemas causados pelas redes sociais e nos vendem a informação de que esse mesmo problema não é por conta de uma série de fatores, mas sim porque estamos "viciados em dopamina", o que é um completo absurdo. Mas as informações estão aí, sendo ultraprocessadas e chegam até nós da mesma maneira e de muitas formas.

A pesquisa do instagram te mostra coisas infinitas sobre o mesmo assunto. Se você curtir uma página sobre yoga, o instagram vai te recomendar infinitamente tudo sobre yoga e tornar uma infinidade de coisas relevantes, menos daquela página que você curtiu no início e queria ver. Provavelmente você ficará fechado com as informações ultraprocessadas que eles querem que você veja para te vender algo.

Youtubers postam suas fontes de pesquisa confiando que todos vão ler, mas a maioria sequer abre. Confiam 100% no que o indivíduo está alegando e assim vão formando opiniões que não necessariamente expressam a verdade. E o youtube ainda te cobra por isso. Ou você paga ou ficará vendo publicidade do jogo do tigrinho.

Eu não sei como solucionar isso e talvez nem tenha solução. O que podemos fazer é tentar ler mais e nos esforçar pra procurar informação. Voltar a ler blogs, encontrar vídeos honestos, ler as fontes, relaxar um pouco e parar de pesquisar por tanta informação. Sabemos como essas big techs jogam um jogo sujo por dinheiro e eu parto do princípio de que se você acha que tem alguma coisa errada, então provavelmente tem.  

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Blogs eram mais autênticos - vamos ter esperança que um dia eles voltem



Eu me perguntei muitas vezes se não estava sendo uma pessoa nostálgica ao constatar um dia que a internet era mais legal num passado nem tão distante. A gente lia blog com bastante paciência e ainda ficávamos ansiosos e felizes quando nossos blogueiros e blogueiras preferidos faziam posts novos.

Tudo foi suprimido pelas redes sociais e muitos desses blogs se dissolveram em canais de YouTube ou páginas de Instagram. Assim, os blogs foram derrotados, não sei se pra sempre, mas não são mais o que já foram ontem.

Não sou dada a teorias de conspiração, como aquela que diz que a internet está morta desde 2016 e hoje tudo está tomado por robôs e IA. Tem seu sentido, mas a internet ainda é majoritariamente composta por pessoas. Mas um fato que eu concordo, é que a internet era mais legal, ao menos nos anos 90 pra quem acompanhou um pouco e no início dos anos 2000, a era dourada dos blogs e gifs.

Mas o que aconteceu?

Eu não vou ficar citando milhares de fontes sem fim, afinal, temos muitos livros e teorias que explicam como os algoritmos têm mudado o comportamento das pessoas. Eu sempre me deparo com notícias bizarras como o aumento de cirurgia de pessoas querendo ficar igual ao filtro do Instagram. Ou um bando de gente ensandecida, dominadas por um robô aleatório de algum grupo do Telegram tocando o quebra lá no palácio do planalto. Podemos falar de pessoas que postam foto de todos os momentos de suas vidas ao invés de se concentrarem no que estão vivendo. Não vou dar lição de moral, há tempos deixei de me importar com isso porque tenho fé que hora ou outra isso vai cansar e as pessoas perceberão alguma coisinha errada, seja lá qual for.

Os algoritmos dominaram toda a nossa linguagem e esmagaram as nossas memórias. Ninguém mais fala com autenticidade, sempre existe algum imperativo misterioso que comanda nossas opiniões e atitudes, mesmo que a gente pense que não. Por exemplo, tomar muito cuidado ao tratar de um determinado assunto e acabar não se expressando como realmente queria se expressar. Falar sempre as mesmas bobagens que ouviu em algum lugar e não tomou o cuidado pra saber se aquilo tem fundamento, são verdades proclamadas apenas na internet.

Posso citar exemplo sem me importar muito com as consequências, afinal, eu nunca tive relevância digital e mesmo que tivesse falaria igual. A tal da dopamina que todos falam sobre o fator único de vício e na verdade ela por si só não explica nada sozinha. É um conjunto de comportamento complexo que precisamos mudar. Você não pode controlar a dopamina, esqueça essa explicação. Tem um psicólogo picaretão que circula aí em podcasts que insiste em falar sobre dopamina e vive o dia todo postando alguma coisa em suas redes sociais. E é ele mesmo que posta sim, já que ele grava stories e produz lives ratificando suas bobagens. Mas eu não quero retomar esse blog pra entrar nessa questão.

As redes sociais mudaram muitas coisas. Os algoritmos predatórios induzem você a postar o que eles querem que você poste e transforma um assunto em viral pra sugar o máximo da sua alma. Em uma polêmica mentirosa inventada por alguém aleatório, antes das histórias se confirmarem fraudes, já circulou muito dinheiro. Depois, essas polêmicas são esquecidas, as pessoas envolvidas voltam às suas vidas digitais com mais seguidores e visibilidade e tudo é esquecido. Na internet de hoje, tudo vira hit e se dissolve em tempo recorde.

Eu fui muito ingênua quando criei esse blog em 2016, confiando que era possível reduzir o tempo de uso das redes sociais. Isso é possível pra poucas pessoas, a maioria fica no campo da tentativa mesmo. Em 2016, eu deixava muito claro nos textos que eu escrevia, que não estava falando para pessoas que não viam problema em gastar horas no Facebook. Hoje em dia, eu escrevo para essas pessoas, porque eu já nem consigo encontrar quem não veja problema em passar horas e horas logado numa rede com o celular na mão.

Meu jeito de escrever mudou muito, eu pesquisei mais, li outros livros, conversei com mais pessoas e acabei excluindo minhas redes sociais porque esse foi o melhor caminho. Em 2016, percebi que era impossível me concentrar na leitura, sendo que ler é meu hobby. Não aconteceu somente comigo, muitos amigos e pessoas que conheci ao longo desses anos reclamaram da mesma coisa. Assim, se antes eu partia do princípio que o tempo nas redes sociais deveria ser reduzido, hoje eu acredito fortemente que vale a pena não ter rede social. Tenho ciência de que ainda vamos demorar muito pra entender que não precisamos de rede social nenhuma, mas tenho fé que esse dia chegará.

Eu vi um vídeo de uma moça no Tiktok  questionando o que aconteceu com as blogueiras. Vou deixar o vídeo aqui pra você não ter que abrir o TikTok:

Eu não uso TikTok. Nunca fiz login lá, mas ainda consigo assistir os links que me mandam. Essa moça diz, resumindo que gostava das blogueiras antes porque elas escreviam pouco sobre um produto e vendia. Hoje, gastam 40 minutos fazendo vídeo no YouTube falando sobre determinado produto. Isso é um pouco óbvio. Na internet predatória de hoje, é preciso produzir conteúdo e esses conteúdos longos garantem monetização. Eu nunca consumi nada vindo de blogs, mas já me interessei por diversos assuntos que não conhecia porque li em algum blog. Por exemplo, eu conheci os filmes do Tarkovsky através de resenhas de blogs. Stalker é um de seus filmes mais importantes, baseado no livro de mesmo nome dos irmãos Strugatsky, tem 3 horas de duração e é em ritmo lento. Se você não acelera vídeos e ainda consegue se concentrar em filmes de ritmo lento, vale a pena assistir.

Na época dos blogs, nós éramos autênticos. Soava mais verdadeiro ver fotos com determinados assuntos porque você tinha que perder um certo tempo para publicar. A gente não tinha acesso a todas as informações, as opiniões eram genuínas, sem imperativos algorítmicos ditando como falar e o que falar. Hoje em dia, tudo parece sofrer ataque de clones, profissionais de saúde fazem dancinhas, criam reels muito parecido com o que milhares de outros fazem e vão repetindo esse comportamento memético.

Os vídeos no YouTube sempre são iguais. O sujeito abre o vídeo, fala alguma coisa, fica esmolando like, pedindo seu dinheiro mesmo o AdSense pagando a ele em dólar, roda uma enigmática vinheta que a gente nunca sabe porquê está ali, faz uma publicidade da insider e finalmente, depois de 3 minutos entra no assunto do vídeo. E sempre da mesma forma que outros fazem, voz adocicada, passando alguma coisa na tela pra você prestar atenção e falando blablablás que outras centenas de pessoas iguais a ele também falam, da mesma forma, tudo igual.

Claro que eu não serei tão dura. Há pessoas que produzem bons conteúdos e até acompanho muitas delas. Mas vamos reconhecer que não existe originalidade nas ações, é sempre mais do mesmo porque eles repetem o que funciona, o que dá certo. O que funciona é o que um algoritmo quer.

Quando há monetização em jogo, é claro que todo mundo vai se tornar, ainda que de forma bem moderada, predadores de atenção.

Estou retomando esse blog para compartilhar meus pensamentos e descobertas, que hoje não estão baseadas no que acontece nas redes sociais. Eu não vou polemizar quando tiver big brother, não vou falar do assunto do momento e nem ficar revoltada com o senhor Elon Musk. Isso pra mim é irrelevante, tudo vai passar, de algum jeito vai passar. As pessoas se revoltam com o que estão vendo nas redes sociais e no x/twitter, mas não saem de lá. Mesmo quem não vive de rede social insiste no argumento de que há pessoas que trabalham com redes sociais. Ok… Deixariam de trabalhar se não tivessem mais audiência. As redes esmagaram os blogs e o formato como eram antes, acabou. É possível que nunca mais volte a ser como antes, ver coisas autênticas e sem um algoritmo por trás. Muitos textos hoje em dia são produzidos por IA. Além do mais, até mesmo quem tem comércio e vive de divulgação em rede social, deveria pensar por qual motivo está deixando que uma big tech monopolize tudo. O dia que essas big techs decidirem que não haverá mais rede social, como fica?

Esse blog está sendo reativado e escrito na esperança de que um dia as coisas não necessariamente voltem a ser como antes, mas que ao menos tenhamos algum espaço onde possamos nos expressar sem ter sido corrompido por um algoritmo.