Eu
me perguntei muitas vezes se não estava sendo uma pessoa nostálgica
ao constatar um dia que a internet era mais legal num passado nem tão
distante. A gente lia blog com bastante paciência e ainda ficávamos
ansiosos e felizes quando nossos blogueiros e blogueiras preferidos
faziam posts novos.
Tudo
foi suprimido pelas redes sociais e muitos desses blogs se
dissolveram em canais de YouTube ou páginas de Instagram. Assim, os
blogs foram derrotados, não sei se pra sempre, mas não são mais o
que já foram ontem.
Não
sou dada a teorias de conspiração, como aquela que diz que a
internet está morta desde 2016 e hoje tudo está tomado por robôs e
IA. Tem seu sentido, mas a internet ainda é majoritariamente
composta por pessoas. Mas um fato que eu concordo, é que a internet
era mais legal, ao menos nos anos 90 pra quem acompanhou um pouco e
no início dos anos 2000, a era dourada dos blogs e gifs.
Mas o que aconteceu?
Eu
não vou ficar citando milhares de fontes sem fim, afinal, temos
muitos livros e teorias que explicam como os algoritmos têm mudado o
comportamento das pessoas. Eu sempre me deparo com notícias bizarras
como o aumento de cirurgia de pessoas querendo ficar igual ao filtro
do Instagram. Ou um bando de gente ensandecida, dominadas por um robô
aleatório de algum grupo do Telegram tocando o quebra lá no palácio
do planalto. Podemos falar de pessoas que postam foto de todos os
momentos de suas vidas ao invés de se concentrarem no que estão
vivendo. Não vou dar lição de moral, há tempos deixei de me
importar com isso porque tenho fé que hora ou outra isso vai cansar
e as pessoas perceberão alguma coisinha errada, seja lá qual for.
Os
algoritmos dominaram toda a nossa linguagem e esmagaram as nossas
memórias. Ninguém mais fala com autenticidade, sempre existe algum
imperativo misterioso que comanda nossas opiniões e atitudes, mesmo
que a gente pense que não. Por exemplo, tomar muito cuidado ao
tratar de um determinado assunto e acabar não se expressando como
realmente queria se expressar. Falar sempre as mesmas bobagens que
ouviu em algum lugar e não tomou o cuidado pra saber se aquilo
tem fundamento, são verdades proclamadas apenas na internet.
Posso
citar exemplo sem me importar muito com as consequências, afinal, eu
nunca tive relevância digital e mesmo que tivesse falaria igual. A tal da dopamina que todos falam sobre o fator único de
vício e na verdade ela por si só não explica nada sozinha. É um
conjunto de comportamento complexo que precisamos
mudar. Você não pode controlar a dopamina, esqueça essa
explicação. Tem um psicólogo picaretão que circula aí em podcasts
que insiste em falar sobre dopamina e vive o dia todo postando alguma
coisa em suas redes sociais. E é ele mesmo que posta sim, já que
ele grava stories e produz lives ratificando suas bobagens. Mas eu
não quero retomar esse blog pra entrar nessa questão.
As
redes sociais mudaram muitas coisas. Os algoritmos predatórios
induzem você a postar o que eles querem que você poste e transforma
um assunto em viral pra sugar o máximo da sua alma. Em uma polêmica
mentirosa inventada por alguém aleatório, antes das histórias se
confirmarem fraudes, já circulou muito dinheiro. Depois, essas polêmicas são esquecidas, as pessoas envolvidas voltam às suas
vidas digitais com mais seguidores e visibilidade e tudo é
esquecido. Na internet de hoje, tudo vira hit e se dissolve em tempo
recorde.
Eu
fui muito ingênua quando criei esse blog em 2016, confiando que era
possível reduzir o tempo de uso das redes sociais. Isso é possível
pra poucas pessoas, a maioria fica no campo da tentativa mesmo. Em
2016, eu deixava muito claro nos textos que eu escrevia, que não
estava falando para pessoas que não viam problema em gastar horas no Facebook. Hoje em dia, eu escrevo para essas pessoas, porque eu já
nem consigo encontrar quem não veja problema em passar horas e horas
logado numa rede com o celular na mão.
Meu
jeito de escrever mudou muito, eu pesquisei mais, li outros livros,
conversei com mais pessoas e acabei excluindo minhas redes sociais
porque esse foi o melhor caminho. Em 2016, percebi que era impossível
me concentrar na leitura, sendo que ler é meu hobby. Não aconteceu
somente comigo, muitos amigos e pessoas que conheci ao longo desses
anos reclamaram da mesma coisa. Assim, se antes eu partia do
princípio que o tempo nas redes sociais deveria ser reduzido, hoje
eu acredito fortemente que vale a pena não ter rede social. Tenho
ciência de que ainda vamos demorar muito pra entender que não
precisamos de rede social nenhuma, mas tenho fé que esse dia
chegará.
Eu
vi um vídeo de uma moça no Tiktok questionando o que aconteceu
com as blogueiras. Vou deixar o vídeo aqui pra você não ter que abrir o TikTok:
Eu
não uso TikTok. Nunca fiz login lá, mas ainda consigo assistir os
links que me mandam. Essa moça diz, resumindo que gostava das
blogueiras antes porque elas escreviam pouco sobre um produto e
vendia. Hoje, gastam 40 minutos fazendo vídeo no YouTube falando
sobre determinado produto. Isso é um pouco óbvio. Na internet
predatória de hoje, é preciso produzir conteúdo e esses conteúdos
longos garantem monetização. Eu nunca consumi nada vindo de blogs,
mas já me interessei por diversos assuntos que não conhecia porque
li em algum blog. Por exemplo, eu conheci os filmes do Tarkovsky
através de resenhas de blogs. Stalker é um de seus filmes mais
importantes, baseado no livro de mesmo nome dos irmãos
Strugatsky,
tem
3 horas de duração e é em ritmo lento. Se você não acelera
vídeos e ainda consegue se concentrar em filmes de ritmo lento, vale
a pena assistir.
Na
época dos blogs, nós éramos autênticos. Soava mais verdadeiro ver
fotos com determinados assuntos porque você tinha que perder um
certo tempo para publicar. A gente não tinha acesso a todas as
informações, as opiniões eram genuínas, sem imperativos
algorítmicos ditando como falar e o que falar. Hoje em dia, tudo
parece sofrer ataque de clones, profissionais de saúde fazem
dancinhas, criam reels muito parecido com o que milhares de outros
fazem e vão repetindo esse comportamento memético.
Os
vídeos no YouTube sempre são iguais. O sujeito abre o vídeo, fala
alguma coisa, fica esmolando like, pedindo seu dinheiro mesmo o AdSense pagando a ele em dólar, roda uma enigmática vinheta que a
gente nunca sabe porquê está ali, faz uma publicidade da insider e
finalmente, depois de 3 minutos entra no assunto do vídeo. E sempre
da mesma forma que outros fazem, voz adocicada, passando alguma coisa
na tela pra você prestar atenção e falando blablablás que outras
centenas de pessoas iguais a ele também falam, da mesma forma, tudo igual.
Claro
que eu não serei tão dura. Há pessoas que produzem bons conteúdos
e até acompanho muitas delas. Mas vamos
reconhecer que não existe originalidade nas ações, é sempre mais
do mesmo porque eles repetem o que funciona, o que dá certo. O que
funciona é o que um algoritmo quer.
Quando
há monetização em jogo, é claro que todo mundo
vai se tornar, ainda que de forma bem moderada, predadores de
atenção.
Estou
retomando esse blog para compartilhar meus pensamentos e descobertas,
que hoje não estão baseadas no que acontece nas redes sociais. Eu
não vou polemizar quando tiver big brother, não vou falar do
assunto do momento e nem ficar revoltada com o senhor Elon Musk. Isso
pra mim é irrelevante, tudo vai passar, de algum jeito vai
passar. As pessoas se revoltam com o que estão vendo nas redes
sociais e no x/twitter, mas não saem de lá. Mesmo quem não vive de
rede social insiste no argumento de que há pessoas que trabalham com
redes sociais. Ok… Deixariam de trabalhar se não tivessem mais
audiência. As redes esmagaram os blogs e o formato como eram antes,
acabou. É possível que nunca mais volte a ser como antes, ver
coisas autênticas e sem um algoritmo por trás. Muitos textos hoje
em dia são produzidos por IA. Além do mais, até mesmo quem tem
comércio e vive de divulgação em rede social, deveria pensar por
qual motivo está deixando que uma big tech monopolize tudo. O dia
que essas big techs decidirem que não haverá mais rede social, como
fica?
Esse
blog está sendo reativado e escrito na esperança de que um dia as
coisas não necessariamente voltem a ser como antes, mas que ao menos
tenhamos algum espaço onde possamos nos expressar sem ter sido
corrompido por um algoritmo.