quarta-feira, 3 de julho de 2024

Blogs eram mais autênticos - vamos ter esperança que um dia eles voltem



Eu me perguntei muitas vezes se não estava sendo uma pessoa nostálgica ao constatar um dia que a internet era mais legal num passado nem tão distante. A gente lia blog com bastante paciência e ainda ficávamos ansiosos e felizes quando nossos blogueiros e blogueiras preferidos faziam posts novos.

Tudo foi suprimido pelas redes sociais e muitos desses blogs se dissolveram em canais de YouTube ou páginas de Instagram. Assim, os blogs foram derrotados, não sei se pra sempre, mas não são mais o que já foram ontem.

Não sou dada a teorias de conspiração, como aquela que diz que a internet está morta desde 2016 e hoje tudo está tomado por robôs e IA. Tem seu sentido, mas a internet ainda é majoritariamente composta por pessoas. Mas um fato que eu concordo, é que a internet era mais legal, ao menos nos anos 90 pra quem acompanhou um pouco e no início dos anos 2000, a era dourada dos blogs e gifs.

Mas o que aconteceu?

Eu não vou ficar citando milhares de fontes sem fim, afinal, temos muitos livros e teorias que explicam como os algoritmos têm mudado o comportamento das pessoas. Eu sempre me deparo com notícias bizarras como o aumento de cirurgia de pessoas querendo ficar igual ao filtro do Instagram. Ou um bando de gente ensandecida, dominadas por um robô aleatório de algum grupo do Telegram tocando o quebra lá no palácio do planalto. Podemos falar de pessoas que postam foto de todos os momentos de suas vidas ao invés de se concentrarem no que estão vivendo. Não vou dar lição de moral, há tempos deixei de me importar com isso porque tenho fé que hora ou outra isso vai cansar e as pessoas perceberão alguma coisinha errada, seja lá qual for.

Os algoritmos dominaram toda a nossa linguagem e esmagaram as nossas memórias. Ninguém mais fala com autenticidade, sempre existe algum imperativo misterioso que comanda nossas opiniões e atitudes, mesmo que a gente pense que não. Por exemplo, tomar muito cuidado ao tratar de um determinado assunto e acabar não se expressando como realmente queria se expressar. Falar sempre as mesmas bobagens que ouviu em algum lugar e não tomou o cuidado pra saber se aquilo tem fundamento, são verdades proclamadas apenas na internet.

Posso citar exemplo sem me importar muito com as consequências, afinal, eu nunca tive relevância digital e mesmo que tivesse falaria igual. A tal da dopamina que todos falam sobre o fator único de vício e na verdade ela por si só não explica nada sozinha. É um conjunto de comportamento complexo que precisamos mudar. Você não pode controlar a dopamina, esqueça essa explicação. Tem um psicólogo picaretão que circula aí em podcasts que insiste em falar sobre dopamina e vive o dia todo postando alguma coisa em suas redes sociais. E é ele mesmo que posta sim, já que ele grava stories e produz lives ratificando suas bobagens. Mas eu não quero retomar esse blog pra entrar nessa questão.

As redes sociais mudaram muitas coisas. Os algoritmos predatórios induzem você a postar o que eles querem que você poste e transforma um assunto em viral pra sugar o máximo da sua alma. Em uma polêmica mentirosa inventada por alguém aleatório, antes das histórias se confirmarem fraudes, já circulou muito dinheiro. Depois, essas polêmicas são esquecidas, as pessoas envolvidas voltam às suas vidas digitais com mais seguidores e visibilidade e tudo é esquecido. Na internet de hoje, tudo vira hit e se dissolve em tempo recorde.

Eu fui muito ingênua quando criei esse blog em 2016, confiando que era possível reduzir o tempo de uso das redes sociais. Isso é possível pra poucas pessoas, a maioria fica no campo da tentativa mesmo. Em 2016, eu deixava muito claro nos textos que eu escrevia, que não estava falando para pessoas que não viam problema em gastar horas no Facebook. Hoje em dia, eu escrevo para essas pessoas, porque eu já nem consigo encontrar quem não veja problema em passar horas e horas logado numa rede com o celular na mão.

Meu jeito de escrever mudou muito, eu pesquisei mais, li outros livros, conversei com mais pessoas e acabei excluindo minhas redes sociais porque esse foi o melhor caminho. Em 2016, percebi que era impossível me concentrar na leitura, sendo que ler é meu hobby. Não aconteceu somente comigo, muitos amigos e pessoas que conheci ao longo desses anos reclamaram da mesma coisa. Assim, se antes eu partia do princípio que o tempo nas redes sociais deveria ser reduzido, hoje eu acredito fortemente que vale a pena não ter rede social. Tenho ciência de que ainda vamos demorar muito pra entender que não precisamos de rede social nenhuma, mas tenho fé que esse dia chegará.

Eu vi um vídeo de uma moça no Tiktok  questionando o que aconteceu com as blogueiras. Vou deixar o vídeo aqui pra você não ter que abrir o TikTok:

Eu não uso TikTok. Nunca fiz login lá, mas ainda consigo assistir os links que me mandam. Essa moça diz, resumindo que gostava das blogueiras antes porque elas escreviam pouco sobre um produto e vendia. Hoje, gastam 40 minutos fazendo vídeo no YouTube falando sobre determinado produto. Isso é um pouco óbvio. Na internet predatória de hoje, é preciso produzir conteúdo e esses conteúdos longos garantem monetização. Eu nunca consumi nada vindo de blogs, mas já me interessei por diversos assuntos que não conhecia porque li em algum blog. Por exemplo, eu conheci os filmes do Tarkovsky através de resenhas de blogs. Stalker é um de seus filmes mais importantes, baseado no livro de mesmo nome dos irmãos Strugatsky, tem 3 horas de duração e é em ritmo lento. Se você não acelera vídeos e ainda consegue se concentrar em filmes de ritmo lento, vale a pena assistir.

Na época dos blogs, nós éramos autênticos. Soava mais verdadeiro ver fotos com determinados assuntos porque você tinha que perder um certo tempo para publicar. A gente não tinha acesso a todas as informações, as opiniões eram genuínas, sem imperativos algorítmicos ditando como falar e o que falar. Hoje em dia, tudo parece sofrer ataque de clones, profissionais de saúde fazem dancinhas, criam reels muito parecido com o que milhares de outros fazem e vão repetindo esse comportamento memético.

Os vídeos no YouTube sempre são iguais. O sujeito abre o vídeo, fala alguma coisa, fica esmolando like, pedindo seu dinheiro mesmo o AdSense pagando a ele em dólar, roda uma enigmática vinheta que a gente nunca sabe porquê está ali, faz uma publicidade da insider e finalmente, depois de 3 minutos entra no assunto do vídeo. E sempre da mesma forma que outros fazem, voz adocicada, passando alguma coisa na tela pra você prestar atenção e falando blablablás que outras centenas de pessoas iguais a ele também falam, da mesma forma, tudo igual.

Claro que eu não serei tão dura. Há pessoas que produzem bons conteúdos e até acompanho muitas delas. Mas vamos reconhecer que não existe originalidade nas ações, é sempre mais do mesmo porque eles repetem o que funciona, o que dá certo. O que funciona é o que um algoritmo quer.

Quando há monetização em jogo, é claro que todo mundo vai se tornar, ainda que de forma bem moderada, predadores de atenção.

Estou retomando esse blog para compartilhar meus pensamentos e descobertas, que hoje não estão baseadas no que acontece nas redes sociais. Eu não vou polemizar quando tiver big brother, não vou falar do assunto do momento e nem ficar revoltada com o senhor Elon Musk. Isso pra mim é irrelevante, tudo vai passar, de algum jeito vai passar. As pessoas se revoltam com o que estão vendo nas redes sociais e no x/twitter, mas não saem de lá. Mesmo quem não vive de rede social insiste no argumento de que há pessoas que trabalham com redes sociais. Ok… Deixariam de trabalhar se não tivessem mais audiência. As redes esmagaram os blogs e o formato como eram antes, acabou. É possível que nunca mais volte a ser como antes, ver coisas autênticas e sem um algoritmo por trás. Muitos textos hoje em dia são produzidos por IA. Além do mais, até mesmo quem tem comércio e vive de divulgação em rede social, deveria pensar por qual motivo está deixando que uma big tech monopolize tudo. O dia que essas big techs decidirem que não haverá mais rede social, como fica?

Esse blog está sendo reativado e escrito na esperança de que um dia as coisas não necessariamente voltem a ser como antes, mas que ao menos tenhamos algum espaço onde possamos nos expressar sem ter sido corrompido por um algoritmo.

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